Nascido e apaixonado por Bauru, cidade do interior de São Paulo, Damião Garcia veio ao mundo em 1931 e faleceu aos 85 anos devido à uma pneumonia. O fundador da maior empresa brasileira de suprimentos para escritório, informática e materiais escolares dividiu sua vida entre o empreendedorismo e o futebol.
O pai de Damião era imigrante espanhol e trabalhava na Tilibra. E o menino conquistou um cargo por lá aos 10 anos de idade. O mais responsável dos 8 filhos, Damião quis trabalhar desde cedo, se dedicando também aos estudos. Aos 20 anos se mudou para Assis, cidade vizinha, para trabalhar como caixeiro viajante, vendendo material escolar de norte à sul do país.
Nos anos 60, já casado com Maria Garcia e alguns filhos, se mudou para a capital paulista e, após algum tempo, na Vila Mariana, montou uma papelaria chamada D Garcia do Brasil. O empresário tinha o desejo de construir uma empresa para deixar um futuro garantido para os filhos Mário, Paulo, Allison, Luiz Fernando, José Roberto e Damião Jr.
“Eu fiz da minha vida um desafio, e até hoje sou assim. Vou cumprindo meus desafios.“
Em 1972, o nome Kalunga apareceu na vida do empresário: na casa de um amigo, Damião descobriu que o cachorro da família tinha esse nome e de cara se apegou à palavra. Mais tarde, descobriu que ela significava “tudo de bom” em uma língua africana.
Logo, o galpão que contava com uma loja na frente, recebeu o nome Kalunga em sua fachada. E sempre muito determinado, Damião fez a papelaria crescer bastante. Primeiramente atuando como atacadista, fornecendo suprimentos para empresas. Porém, quando já estava forte no segmento, o empreendedor percebeu que as pessoas se juntavam para comprar pacotes de algum material e dividir depois. Foi quando a papelaria se tornou o chamado “atacarejo”.
Nos anos 80, a Kalunga ganhou repercussão nacional graças à iniciativa de patrocínio do Corinthians. O empreendedor, apaixonado pelo time, investiu no clube e passou a ter sua marca estampada no uniforme, um dos primeiros a acreditar no marketing esportivo. A parceria durou mais de 10 anos e o rendeu uma posição de conselheiro vitalício do time. Em 1988, Damião adquiriu a Gráfica dos Salesianos, que se tornou a conhecida Spiral do Brasil, transformando a empresa em um grupo e dando início a produção própria de cadernos e suprimentos para escritório, vendendo atualmente cerca de 1,5 milhão de unidades por ano.
“Não adianta ficar preocupado com o vizinho, porque se você cria frango e seu vizinho também, você fica de olho nele e esquece do seu. Tem que pensar em si, naquilo que está produzindo.”
Na década seguinte, a Kalunga passou a atuar fortemente na área de informática, realizando investimentos para colocar seu website e e-commerce no ar e vinculá-lo com o serviço das lojas físicas, o que a tornou referência no segmento.
O empresário começou a delegar o comando desde cedo, dando cargos de direção para os filhos conforme completavam 18 anos. Fator que levou a decisão de manter a empresa na família, pois nunca tiveram interesse no modelo de Franchising, acreditando que o franqueado não tem praticamente nada para agregar e os donos conseguem oferecer um serviço melhor.
Nos anos 2000, Damião deu um dos maiores passos de sua carreira pessoal: se tornou presidente do Noroeste, time de sua cidade natal e que também era sua grande paixão. Tirou o clube da crise, registrando a melhor campanha do time na história do campeonato Paulistão. O empreendedor permaneceu no cargo de 2003 a 2012, quando renunciou por problemas de saúde. Esse período o tornou uma espécie de patrocinador da cidade. Enquanto isso, a Kalunga crescia em número de lojas, produtos e vendas, sem perder sua essência de bom atendimento e um mix de produtos. Por terem percebido desde o começo que era necessário uma variedade de produtos, oferecem cerca de 11 mil itens, que vão de canetas à computadores, por um preço mais baixo que o do concorrente, graças ao giro de clientes.
Em 2012, atingiu o número de 100 lojas. E hoje, conta com mais de 180 unidades, com vendas físicas que representam 88% do faturamento, apesar dos canais virtuais estarem ganhando cada vez mais participação. A meta atual da empresa é abrir cerca de 20 unidades por ano.
Em 2016, o empreendedor faleceu no Hospital Sírio Libanês, em São Paulo, em função de uma pneumonia. Deixando a presidência da empresa para seus filhos Roberto e Paulo Garcia, que deram continuidade aos planos do pai.
No mesmo ano, inauguraram a Kalunga Copy & Print, uma gráfica digital que oferece serviços mais básicos do dia a dia. Com as primeiras unidades em São Paulo e Rio de Janeiro. Atualmente têm investido alguns milhões no e-commerce para atender a demanda desse serviço em todo o território nacional.
Com 3 centros de distribuição, quase 200 lojas físicas espalhadas por todo o país, e sendo a única empresa do segmento a dispor de todos os canais de venda, a Kalunga faturou mais de R$ 2,3 bilhões no último ano, na soma de suas lojas físicas, virtuais e televendas.
Já comentaram comigo sobre esse cara, mas ler a história dessa trajetória é gratificante.