Vinda de uma família muito humilde, a terceira de 10 filhos, Cleusa Maria da Silva foi criada na roça. Começou a trabalhar muito cedo e, por não querer a mesma vida para seus filhos, decidiu se arriscar em algo que nunca imaginou, criando o que é hoje a maior franquia especializada em bolos artesanais do país.
Quando tinha 12 anos, seu pai faleceu em um acidente. A partir daí, foram morar com os avós em Bandeirantes/PR, e Cleusa e a mãe foram trabalhar como bóia fria. Trabalhou nisso até os 16 anos, quando seu tio a convidou para morar em São Paulo com ele. Chegando na capital, conseguiu um trabalho como doméstica, dormindo na casa da patroa, por 1 ano. Depois, a empresária começou a estudar a noite e arranjou um emprego de recepcionista durante o dia.
Com 18 anos recém-completados, a tia de Cleusa conversou com uma conhecida, que lhe ofereceu trabalho em uma empresa localizada em Salto, interior de São Paulo, onde a empreendedora trabalhou por 5 anos, ganhando menos de 1 salário mínimo.
“Acho que a sorte está lá no final da história. Pelo menos no meu caso, poucas coisas na vida eu vi como sorte e mais como persistência.“
Durante essa jornada, seu gerente descobriu um câncer e logo faleceu, deixando sua mulher para administrar a empresa. Essa esposa, a Dona Rosa, que fazia e vendia bolos há 10 anos, de repente não tinha mais tempo. Foi quando convidou Cleusa e uma amiga para fazer os bolos, mas como não tinham experiência e dinheiro nenhum, recusaram o convite. Pouco tempo depois, dona Rosa quebrou a perna e pediu a ajuda da empreendedora para fazer o bolo que estava encomendado para um casamento. Cleusa aceitou ajudar, mesmo sem nunca ter feito um bolo na vida, e em 3 ou 4 dias, com as instruções da patroa, fez um bolo de 40 kg. Dona Rosa ficou encantada e refez o convite à empresária, que dessa vez aceitou, ganhando de presente uma batedeira.
A empreendedora recém-separada, com um filho pequeno e morando em um imóvel de 2 cômodos no fundo da casa da mãe, trabalhava de dia e fazia os bolos a noite. Os primeiros bolos foram comprados pela patroa e trabalhava 20 horas por dia sem obter lucro. Ouvia que aquela dedicação era loucura e que não havia perspectiva de crescimento. Mas com uma meta clara de sustentar sua mãe e dar uma vida melhor para o filho, se manteve firme em continuar.
“Quando a gente começa a ganhar, entramos na ilusão de que esse dinheiro é só nosso. A empresa vem em primeiro lugar e o resultado não é imediato, você o constrói no dia a dia.”
Até que, em 1997, pediu demissão da empresa e com o dinheiro da restituição montou a primeira loja, que recebeu o nome de Sensações Doces, em um espaço de 20 m². Trabalhava todos os dias das 8h às 23h por cerca de 3 anos, ainda com dificuldade para pagar contas. Com 1 ano de loja aberta, conseguiu contratar sua primeira funcionária, a própria cunhada, que depois veio a deixar o cargo por um salário 50 reais maior do que Cleusa conseguia pagar.
No programa da Ana Maria Braga, viu uma receita de balas de côco e decidiu vender. Pediu para a mãe produzir as balas mas ela não quis, então Cleusa decidiu comprar de uma doceira e vender em sua loja falando que a mãe as fazia. Após quase ser descoberta, convenceu sua mãe a realmente produzi-las e vendia na loja, junto com bolos e alguns salgadinhos.
Com o tempo, a loja começou a render lucros e Cleusa já conseguia sustentar a mãe e o filho. Também conseguiu montar a segunda loja, em Indaiatuba, também interior de São Paulo, onde a empresária colocou o irmão para comandar. Em 2002, ela conseguiu mudar de sua primeira loja para um espaço maior no centro da cidade, onde as vendas aumentaram bastante.
Alguns anos depois, um cliente de São Paulo que ia toda semana para o interior comprar os bolos, sugeriu que seria muito mais fácil se ela tivesse uma unidade na capital e lhe apresentou o sistema de franquias. Cleusa, que na época tinha 4 lojas próprias, estudou bastante sobre o modelo de negócio e em 2007 resolveu aderir ao sistema e vendeu sua primeira franquia para esse cliente. Em menos de 1 ano, a marca Sodiê já se espalhava por mais de 50 unidades.
Quando a Sensações Doces tinha 75 franqueados, seu nome foi barrado pela Nestlé, que tem o chocolate Sensação, e por lei pode barrar todos os derivados da palavra. A empresária trocou por Sodiê Doces, união do nome de seus filhos Sofia e Diego. Custeou a troca da fachada de todas as lojas, mudança que custou R$ 1 milhão e deixou sua conta negativa por 2 anos.
Crescendo rapidamente no sistema de franquias e sempre cuidando da padronização dos produtos, hoje já possui cerca de 300 lojas e um faturamento de aproximadamente R$ 230 milhões anuais.
A doceria que inaugurou vendendo apenas a Torta Mesclada por 8 reais o kilo, hoje conta com uma variedade de 90 bolos em seu cardápio, entregam sob encomenda no prazo de 1 hora e trabalham com vendas por fatias nas lojas. Só na capital paulista, são vendidos mais de 130 mil produtos por mês, e pelo Brasil são contabilizadas 300 toneladas mensais de bolo.
Hoje, aos 51 anos, a empresária observa com orgulho a marca que construiu e já completou 20 anos. Contratando ninguém menos do que Ana Maria Braga como garota-propaganda da Sodiê Doces, tem desde 2013 uma relação de carinho e admiração mútua com a apresentadora.
Em 2017, inaugurou a Sodiê Salgados, uma fábrica em Boituva que é o primeiro projeto do filho Diego, que se prepara para ser sucessor. Cleusa ainda tem planos de levar sua marca para o exterior, começando pelos Estados Unidos, contando com a parceria da gigante Nestlé.
O melhor bolo que existe, que legal conhecer a história!