Dono dos “Diários Associados” – hoje terceiro maior conglomerado de comunicação do país -, foi uma grande personalidade nacional da comunicação, no meio empresarial e também político brasileiro. Ocupou a cadeira nº 37 da Academia Brasileira de Letras, antes pertencente a Getúlio Vargas e até sua pré-adolescencência foi um menino gago e sem educação formal. Este foi Francisco de Assis Chateaubriand Bandeira de Melo, paraibano natural de Umbuzeiro, nascido em 4 de outubro de 1892, bacharel em Direito requisitado, mas que trocou sua formação pela paixão que tinha pelo jornalismo.
Chateaubriand cresceu em Recife, e desde muito cedo manifestou os sintomas de gagueira fazendo-o vítima de deboches pelos colegas da escola. Ele não chegou a completar a primeira semana de aulas e nem professoras particulares para alfabetizá-lo em casa deu certo. Analfabeto e tímido, Chateaubriand foi enviado ao avô materno, acreditando que uma vida mais solta em meio a natureza pudesse desinibi-lo. Chateaubriand retornou algum tempo depois sem a gagueira mas com um comportamento rebelde e mal-criado. Com 12 anos e sem nenhuma educação formal, a última esperança que seus pais tinham de vê-lo civilizado e com alguma instrução, foi pedir ajuda de seu tio, que o colocou para estudar todas as manhãs e tardes com uma professora, para que ele conseguisse ingressar no ginásio da Escola Naval. Apesar da nota baixa, foi suficiente para que ele conseguisse passar no exame e deixar oficialmente de ser analfabeto.
No ginásio não foi o melhor aluno. Apesar das notas abaixo da média, era um assíduo estudante de línguas francesa e alemã. Seu primeiro emprego foi no armazém atacadista de tecidos Othon Mendes & Cia, mas como naquela época ele já manifestava interesse pelos jornais, algum tempo depois decidiu pedir as contas da loja e ir atrás de um emprego como jornalista. Seu primeiro trabalho em uma redação de jornal foi na Gazeta do Norte, aos 15 anos de idade, mas dificuldades financeiras do jornal fizeram-no fechar as portas e Chateaubriand viu-se desempregado. Incentivado pelo pai, ingressou na Faculdade de Direito enquanto trabalhava no jornal O Pernambuco como aprendiz, ganhando meio salário. A vida no jornal ia aumentando a sedução sobre ele.
“O pioneiro é uma criatura que não está nunca satisfeito de si. Vive a bater seus próprios recordes.“
Em 1910, Chateaubriand já havia deixado O Pernambuco e trabalhava no Jornal do Recife e de onde foi demitido posteriormente por defender nas páginas do jornal de forma ferrenha o então candidato à presidência Rui Barbosa, que disputava com o marechal Hermes da Fonseca. Desempregado, Chateaubriand, com 17 anos, sem que nenhum outro jornal lhe abrisse as portas, resolveu do próprio bolso e com a ajuda de alguns amigos, publicar seu manifesto censurado e distribuí-lo na cidade.
À repercussão foi imediata pela sua coragem e atrevimento. Em pouco tempo conseguiu um emprego de redator do Diário de Pernambuco e recebeu um convite para ser articulista do Jornal Pequeno. Apesar de jovem, Chateaubriand já tinha uma vida adulta, entre intelectuais e debates políticos, mas ainda era obrigado pela mãe a pedir dinheiro para as despesas mais simples. Em Pernambuco, era o entrevistador principal das personalidades importantes que passavam por lá.
Com o fechamento do jornal Diário, Chateaubriand passou a ser correspondente em Recife e repórter irregular para o jornal A Noite, do Rio. Teve uma breve passagem pelo jornal Estado de Pernambuco, convidado a ocupar o posto de redator-chefe e secretário de redação. Formou-se em Direito em 1915, com 23 anos e desiludido com o jornalismo, prestou o concurso para professor catedrático da Faculdade de Direito de Recife. Recebeu o título de doutor e fora empossado mas não exerceu o cargo. Mudou-se para o Rio de Janeiro com uma proposta de trabalho, já como advogado.
Seus planos no Rio eram ganhar dinheiro com a advocacia, conquistar a confiança de pessoas influentes e comprar seu próprio jornal. Publicava notas políticas em A Época, no Jornal do Commercio, no Correio da Manhã e também publicava artigos no Estadinho, em São Paulo. A grande desenvoltura e as suas boas relações renderam a Chateaubriand um cargo de advogado fixo da Brazilian Traction, convidado por Alexander Mackenzie. Foi também consultor de leis de guerra no ministério das relações exteriores antes de aceitar o convite para integrar a equipe do Jornal do Brasil.
“Não poderá haver maior desgraça para uma coletividade quando na alma de seus homens morre a ambição.“
Integrado à vida intelectual e política do Rio de Janeiro, foi convidado a ser correspondente internacional do Correio da Manhã, em 1919, passando um ano na Alemanha. Em 1922, Chateaubriand chegou perto de adquirir o Jornal do Commercio, que na época estava a venda. Aos 31 anos, em 1924, a grande chance veio: “O Jornal” estava a venda e logo Chateaubriand se dispôs a adquirí-lo. Raspou todas as economias que havia feito durantes os anos, mas não chegava ao valor requisitado de 6 mil contos de réis. O advogado e jornalista teve que contar com empréstimos bancários e com as amizades que fizera ao longo desse tempo para conseguir quitar a compra. Aos 32 anos ele realizava o sonho de ser dono de um jornal.
Dali pra frente, nos próximos seis meses adquiriu o “Diário da Noite”, em São Paulo. Os dois jornais foram o embrião dos Diários Associados. Depois veio o Jornal do Comércio do Rio, e o Diário de Pernambuco. Em 1928 veio o lançamento da revista O Cruzeiro e nos anos 40, o advogado já havia se tornado dono da maior rede de comunicação do país, chamando-os de “Diários Associados”, construindo o maior conglomerado de empresas jornalísticas do país: 36 jornais, 19 tevês, 25 rádios, 18 revistas e duas agências de notícias. Além de seus diários e emissoras associadas, fundou e comprou empresas, como os laboratórios Bayer, Schering e Licor de Cacau Xavier.
Grande jornalista, Chateaubriand com o poder da imprensa em mãos, apoiou o movimento que rompia com a política do Café-com-leite e levou Getúlio Vargas à presidência do país em 1930. Era conhecido como cidadão Kene brasileiro, e não mediu esforços para participar ativamente da política do país.
Fundou o Museu de Arte de São Paulo (MASP) em 1947, abrigando diversas doações de obras de arte, compradas pelo próprio fundador, a partir de dinheiro de ricos brasileiros de seu círculo social. Já em 1951, Chateaubriand fundou a Escola de Propaganda do Museu de Arte de São Paulo, atualmente conhecida como Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM). Chegou a ser eleito duas vezes senador (em 1952 e 1955), no governo de Juscelino Kubitschek foi nomeado embaixador do Brasil em Londres.
Grande pioneiro e empreendedor, Chateaubriand inaugurou a primeira emissora de televisão no País em 1950 (a extinta TV Tupi), que foi a primeira emissora de Tv da América do Sul e a quarta do mundo. Em 1960, uma trombose o fez perder quase todos os movimentos do corpo e sua fase debilitada acabou refletindo nos negócios. Seus Diários Associados perderam espaço para outras redes, principalmente após o surgimento da TV Globo. Por longos anos, mesmo paraplégico e impossibilitado de falar, continuava a escrever seus artigos. Seu último feito em vida foi em 1967, ao fornecer material para o Museu de Campina Grande.
Chateaubriand morreu em 1968, em São Paulo, aos 75 anos de idade. Antes de falecer, criou o Condomínio Acionário e distribuiu as cotas das empresas para 22 amigos, entre eles vários dirigentes dos veículos de comunicação do grupo, e seus filhos. Como condôminos, passaram a responder pela posse das empresas. O número de condôminos não pode aumentar e quando um deles vem a falecer, outro executivo é eleito para ocupar sua vaga no condomínio.
Atualmente, após algumas modificações, vendas, aquisições e fechamentos, seu grupo conta com 48 veículos de comunicação, sendo 8 jornais, 2 revistas, 12 rádios, 9 emissoras de TV, 9 websites e outras 8 empresas.