Sabe aquela história de vida incrível que quando lemos não podemos deixar de imaginar que ela se encaixaria perfeitamente em um roteiro de filme? O empreendedor Elói D’avila é um desses protagonistas, que superou as dificuldades das ruas e de um lar violento quando ainda criança e hoje é dono de uma das maiores empresas de turismo do país.
Elói D’Avila, 67 anos, é o 14º dos 15 filhos que seus pais tiveram. Natural de Esteio, Rio Grande do Sul, sua mãe faleceu quando Elói ainda tinha três anos e a partir dali passou a vivenciar uma vida cheia de conflitos e dificuldades. Pobres, Elói vivia sob os cuidados da irmã mais velha, onde convivia diariamente com o alcoolismo e a violência do cunhado. Com 8 anos fugiu de casa para morar nas ruas até ser encontrado pelo juizado de menores e levado de volta a viver com a irmã, que desempregada, contava com a ajuda do irmão menor na venda de pastéis. Elói decidiu fugir novamente, dessa vez pegando caronas com caminhoneiros até chegar a São Paulo, mas em poucos dias, foi novamente recolhido pelo Juizado e enviado para Porto Alegre. Assim que desembarcou o garoto foi buscar ajuda em uma concessionária e com uma vaquinha dos funcionários, conseguiu voltar no mesmo dia para a capital paulista.
“Hoje eu tenho uma empresa, mas eu digo que as empresas não existem. Quem existem são as pessoas e são elas que fazem as empresas. Nada se faz sozinho, nenhuma grande estrela brilha sozinha“
Seu primeiro abrigo foi na estação rodoviária e depois Praça da Sé, onde guardava e lavava carros, vendia jornal, porta-vaso, carnê, etc. Ao passar pelo Viaduto do Chá certa vez, conta ter olhado para baixo e pensado acabar com sua vida ali mesmo. Em um desses dias de desespero, sentou-se no meio fio de um ponto de ônibus e ali foi abordado por um senhor de nome Manuel, que o acolheu em sua casa para ajudá-lo nas tarefas domésticas e no cuidado com os netos. Com 11 anos, Elói conseguiu um trabalho na rodoviária, entregando malas, e lá conheceu dois garotos que afirmavam ser no Rio de Janeiro o lugar onde conseguiriam ganhar dinheiro de verdade, e foi o que fizeram.
Nessa época, com 12 anos, Elói começou a trabalhar lavando e guardando carros perto do Copacabana Palace, responsável por guardar as kombis que levavam e traziam os turistas. Amigo dos guias das agências, acabou sendo convidado a ter um trabalho fixo de office boy para a Agência Stella Barros – até então maior agência de turismo do Brasil. Elói aceitou o trabalho de pronto e ficou um mês e meio como office boy, mas até então ainda não tinha um lar. Dormia de favor e em albergues até que dona Stella soube da sua situação e lhe ofereceu dormir na agência, em um sofá de dois lugares onde atendia os clientes. Até hoje, em todos os escritórios da Fly Tour, Elói mantém um sofá de dois lugares na recepção, para lembrar-se de onde ele veio.
“Aprendi que para conseguir alguma coisa você tem que guardar sua humildade. A arrogância é a maior ignorância de alguém. E eu sempre guardo isso comigo”
Vivenciou a parte administrativa, auxiliar de atendimento, office boy de atendimento, emitia voucher, até começar a atender clientes. Neste intervalo de tempo, Elói complementava a renda comprando roupas em São Paulo para revendê-las em Esteio, Canoas e Porto Alegre, nas datas comemorativas, aproveitando para manter o vínculo com a minha família. Foi quando, aos 17 anos, Elói tomou a decisão de mudar-se para São Paulo em definitivo com o propósito de ajudar sua família, que passava por uma situação difícil.
Conseguiu um emprego na Bradesco Turismo, e foi onde conheceu sua esposa Antoinette Khouri de Oliveira, casados há mais de 40 anos. Sua rotina era trabalhar no Bradesco seis horas por dia, mais seis horas na Linhas Aéreas Paraguaias (LAP), como promotor de vendas, e mais seis horas na rodoviária como fiscal de plataforma. O casal decidiu voltar a viver em Porto Alegre, mas em três meses Elói perdeu o emprego na mesma semana em que descobriu a gravidez da esposa.
As circunstâncias os obrigaram a voltar para São Paulo, vender todos os bens e morar de favor na casa do sogro. Apesar de conseguir reaver seu emprego na LAP como gerente de vendas, mantinha bicos em outros lugares. Na LAP vendia voos charter antecipadamente para as agências e as agências para os clientes. Às vezes, o avião não aparecia porque não tinham dinheiro para combustível, então Elói endossava os bilhetes para a Varig. Chegou a ser mandado embora três vezes por divergências até que, em 1974, decidiu sair definitivamente para procurar outro emprego e foi quando, novamente, o destino viria a surpreendê-lo. Durante suas buscas por trabalho, encontrou por acaso Ernesto Farenkrog, que tinha uma companhia de hotéis para quem Elói vendia através da LAP. Ele lhe propôs uma representação, com a condição de que tivesse um escritório e o resultado foi a abertura da Edo Representações, embrião da Flytour, nascida em uma sala emprestada dentro do Hotel São Rafael, no Largo do Arouche.
Elói construiu uma empresa de representações de companhias aéreas (Lloyd Aéreo Boliviano, a Aeroperu, a Ibéria, a Pan Am, a Varig e Transbrasil) vendendo para agentes de viagem. Em 1979, já era o líder de mercado nessa área. A profissionalização da empresa com os anos trouxeram resultados como a abertura de uma business travel em 1990, uma empresa franqueadora em 92, uma operadora de turismo, uma empresa de tecnologia para o turismo e depois uma empresa de eventos para o turismo. Em cinco anos foram 400 agências de viagem franqueadas em shoppings.
Em 2015, uma espécie de fusão entre a Flytour e a concorrente Gapnet criou a holding Inovation Travel Brasil, com Elói na presidência. São mais de 320 pontos de vendas, mais de 6.200 agências pelo Brasil, contando com um faturamento anual de 5,8 bilhões de reais. Atualmente a Flytour tem filiais em Nova York e em Lisboa, além de parcerias que possui no Uruguai, Chile e Argentina. Sua história de vida e luta o motivou a criar o Instituto Edo, voltado para jovens e adolescentes de famílias de baixa renda, preparando-os por meio da educação, a desenvolverem habilidades para entrar no mercado de trabalho a partir dos 16 anos, obtendo afinidade com a linguagem corporativa.