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Ele construiu uma companhia bilionária unindo religião e filantropia

 

Elie Horn (74) é um empresário sírio-brasileiro que fundou em 1963, o que se tornaria a segunda maior incorporadora imobiliária do País, a Cyrela Brazil Realty, presente em 16 estados, 66 cidades no Brasil  e também na Argentina e Uruguai. Judeu ortodoxo praticante, é um grande filantropo e o único brasileiro a integrar o The Giving Pledge, clube idealizado por Bill Gates que estimula bilionários a financiar projetos de forte impacto social. São menos de 200 pessoas no mundo que participam desse grupo e Elie é o único representante da América do Sul.

Segundo levantamento da Forbes de 2018, o patrimônio dele é de US$ 1,02 bilhão, mas 60% desse patrimônio já está oficialmente comprometido para as causas sociais que Elie apoia, sendo investida ainda em vida algo próximo de 3,9 bilhões de reais. O bilionário é fundador do Instituto Liberta, de conscientização e combate ao abuso sexual infantil no Brasil, o Instituto Cyrela, que destina 1% do lucro da companhia para ONGs comprometidas com o combate à pobreza e ainda é um grande incentivador, para que os mais ricos do Brasil também se tornem filantropos.

A filantropia viria a se tornar uma missão de vida para Elie após a morte do pai, que doou 100% de tudo o que tinha para caridade, mesmo não tendo muito. Seu avô materno, também mantinha uma fundação na Síria, na Primeira Guerra, ajudando mais de 3 mil crianças.

“Eu queria que no meu túmulo se escrevesse: ‘esse homem tentou fazer o bem’. Acho que é muito mais dignificante ter feito o bem do que ganhar dinheiro.

O bilionário nasceu em Aleppo, Síria, em 1944 e morou no Líbano até seus 10 anos. Sua família tentou se fixar na europa antes de decidirem migrar para o Brasil, em 1955. Com pouca comida e quase nada de roupas, viajaram na 4ª classe do navio, o porão, em um quarto com 8 pessoas e o banheiro do lado de fora. Sob condições financeiras difíceis a família desembarcou no novo país totalmente sem nada. Elie começou a trabalhar vendendo goma laca (produto usado para envernizar pisos e móveis) de porta em porta. Ainda trabalhou com tecidos antes de entrar no ramo imobiliário.

Seus estudos foram no Liceu Pasteur como bolsista e depois formou-se em Direito na Universidade Presbiteriana Mackenzie, em São Paulo, mas nunca exerceu a profissão. Já até mesmo confessou não gostar da área, estudou só para ter uma formação. Entrou na área imobiliária quando ainda tinha 17 anos, trabalhando com o irmão mais velho, dono da construtora Cyrel com mais um sócio. Sua tarefa era pesquisar onde estavam os melhores terrenos para futuras incorporações e acabou se mostrando muito bom nisso. Quando percebeu que comprar e vender era mais lucrativo, mesmo sem dinheiro, arranjou um jeito próprio de crescer no ramo: “O apartamento custava US$ 10 mil, eu dava 10% de sinal. US$ 1 mil não era difícil de juntar. US$ 3 mil eu tinha que pagar em 90 dias, sem juros e sem correção, e os outros US$ 6 mil em 36 meses, com correção. Eu tinha obrigação de vender em 90 dias porque não tinha como pagar os US$ 3 mil. Depois que vendia, eu repassava o prazo de 36 meses para o comprador.”

 

“Não quero me aposentar, quero morrer produzindo. Pra mim se aposentar é sinal de covardia.”

 

Com 29 anos, um bom patrimônio, Elie se tornou sócio do irmão na construtora, até que em 1978, um dos sócios já havia deixado o negócio, sobrando só os irmãos a frente da companhia. Elie quis entrar no ramo de construção de imóveis mas o irmão mais velho preferiu sair, vendendo sua parte a Elie, que transformou a Cyrel em Cyrela.

Na década de 90, tornou-se sócio do grupo imobiliário argentino Irsa, de George Soros, um dos maiores investidores do mundo, fundando juntos a Brazil Realty. Em 2002, a Irsa vendeu sua parte para Elie, unificando Cyrela e Brazil Realty  e em 2005, a companhia abriu o capital na bolsa. O valor de mercado da companhia subiu assustadoramente, mas todo esse crescimento não foi visto e sentido pelo bilionário como algo positivo para a empresa. “É melhor trabalhar numa época normal do que numa época de boom imobiliário, onde você cresce muito e depois apanha. Muita gente ficou no meio do caminho. Era impossível tomar conta de tantas obras.”

A crise de 2008 foi vista por ele como uma bênção para seus negócios, já que o fez perceber que, muito além do crescimento, eles precisavam se consolidar. Crescer continuava sendo interessante, desde que, de maneira sólida e consistente. Além de marcar sua presença diária na sede da companhia, mantém o hábito de chegar antes de todos e suas jornadas de trabalho estendem-se por 15 horas, fazendo também dos domingos dias normais de trabalho. É comum vê-lo nos estandes de vendas de edifícios em construção e nenhum terreno é comprado ou obra é entregue sem que tenha sido pessoalmente vistoriado por ele.

Além de não ver problema em unir negócios e religião, enxerga seu trabalho como uma missão. Desde 2014, Elie deixou a presidência da Cyrela para os dois filhos e hoje  ocupa a presidência do conselho de administração da Cyrela e Cyrela Commercial Properties (CCP). O empresário dedica de cinco a seis horas por dia para projetos de filantropia e outras seis horas para os negócios. Recentemente, o empresário decidiu investir na área de saúde através da holding de hospitais da Bozano Investimentos, na qual ele é sócio, adquirindo os hospitais Vera Cruz e o São Lucas, ambos no Estado de São Paulo, e ainda pretende chegar a 10 aquisições. Sua companhia Cyrela hoje vale R$ 4,4 bilhões na Bolsa.

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