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De menino engraxate a dono da maior empresa de planos de saúde do país

 

O médico e empresário Edson Godoy Bueno, falecido em 2017 aos 73 anos, se descrevia como um garoto perdedor quando criança. Ao levá-lo para a escola, sua mãe lhe dizia: “meu filho, nem que for a última coisa que eu vou fazer na minha vida, você não sai da escola enquanto não se formar”. Ele tomou a atitude persistente da mãe como sua salvação.

Nascido em 22 de agosto de 1943, em Guarantã, cidade do interior de São Paulo, Edson perdeu o pai aos 5 anos. A mãe era dona de casa e semianalfabeta, já o padrasto era motorista de caminhão. A família humilde convivia com muitas dificuldades financeiras, o que levou Edson, com 10 anos, a buscar uma forma de ajudar em casa. Começou vendendo frutas de porta em porta e depois passou a trabalhar como engraxate usando uma caixa e materiais emprestados de um amigo. Edson conquistou muitos clientes quando percebeu que poderia atender a um nicho, geralmente  os donos de estabelecimentos da cidade, atendendo-os em suas casas.

“Quando você está apaixonado por uma ideia, apaixonado por qualquer coisa, você faz coisas incríveis. E foi o que aconteceu na minha vida.

Acostumado a fama de “burrinho”, Edson só saiu do primário com 15 anos. Foi um acidente aos seus 14 anos que mudou completamente sua vida. Enquanto brincava em um armazém da cidade,Edson desmaiou após um saco de algodão cair em sua cabeça, e ao acordar se deparou com o Dr. Moacir, médico da sua cidade. De bigode e personalidade doce, sua figura evocava o ator norte-americano Clark Gable. Edson observou com encantamento suas roupas brancas e bem alinhadas, o que lhe fez decidir naquele exato momento que se tornaria também um médico.

“Como você vai estudar? Você é pobre, não tem dinheiro nem pra ir na cidade grande”, era o que Edson escutava das pessoas. Passou a dedicar-se dia e noite aos estudos, mesmo com a sensação de que demorava mais que os outros  para conseguir aprender algum conteúdo.

Seu objetivo era estudar na mesma universidade do Dr. Moacir, que era a Faculdade de Medicina da Praia Vermelha, no Rio de Janeiro (depois incorporada pela UFRJ), a segunda faculdade de medicina do Brasil. Terminou seus estudos em escola pública e chegou a morar em Araraquara, na casa de um tio, atuando como jogador pela Associação Ferroviária de Esportes da cidade. Achava que com o dinheiro do futebol conseguiria custear seus estudos em medicina, mas logo percebeu que aquilo não daria muito certo.

 

“Na vida, dizem que há três coisas que levam o homem ao sucesso: experiência, bom senso e talento.”

 

Mudou-se para o Rio de Janeiro, morando no famoso prédio 200 da Barata Ribeiro, junto com um amigo. Edson conseguiu ingressar na faculdade, e estava em busca de um renda para ajudar sua mãe. Logo foi convidado pelo médico Tarcísio Fonseca a acompanhá-lo como acadêmico para trabalhar na Casa de Saúde São José, em Duque de Caxias. Ele estava no segundo ano de medicina.

A Casa de Saúde estava quebrada, com muitos salários atrasados. Lá, Edson aprendia tudo que podia, quando faltando apenas 3 meses para sua formatura, recebeu uma proposta. Um dos sócios da casa de saúde estava repassando seus 50% da sociedade praticamente de graça. Já praticamente falida, Edson aceitou virar sócio e assumiu a casa de saúde em 1971. Em 5 anos, ele com a ajuda da sócia, Drª Cecília e equipe, conseguiram sair de um número ínfimo de 70 partos para 600, transformando o local em uma das maiores maternidades de Duque de Caxias.

Edson havia percebido que o que estava afundando a casa de saúde era a falta de gestão. Ele faturou todas as contas pendentes e pagou os funcionários junto com as horas extras. Mesmo diante de uma situação financeira delicada, Edson escolheu ir na contramão dos cortes de gastos e passou a investir cada vez mais, principalmente na melhora do ambiente e do atendimento. Passou a oferecer lanches para os pacientes, disponibilizava uma kombi gratuita para deixar os pacientes em casa, voltou a oferecer sobremesa nas refeições, centralizou as compras e melhorou a assistência médica contratando médicos e acadêmicos a partir do 6º ano.

Muitos diziam que aquilo o levaria à falência, mas o médico acreditava que cortar as coisas só levaria o local a falência mais rápido. Formado em cirurgia-geral aos 28 anos, viu as pequenas mudanças reerguerem a Casa São José.  Motivados, os sócios compraram a Somicol (que virou o Hospital de Clínicas Mário Lioni), logo depois a Clínica Santa Rita e depois a Clínica São Sebastião. Após 5 anos, criaram a Empresa de Serviços Hospitalares (ESHO).

Um grande passo foi a implementação da primeira CTI neonatal do estado do Rio de Janeiro, em Duque de Caxias. Já a Amil nasceu em 1978, inspirado na história do fundador da Golden Cross, Dr. Milton Afonso. Nessa época, Edson já tomava conta de 70% do mercado de serviços de saúde de Duque de Caxias.

A Amil se tornou a maior empresa de planos de saúde do Brasil e grande parcela do sucesso da empresa teve o olhar aguçado de seu fundador. Em 2001, quando a Amil completou 30 anos em atuação, ele criou o slogan “30 anos em 5”, buscando dobrar o tamanho da empresa em 5 anos. A gana foi tanta que a meta foi atingida 1 ano antes.  Já em 2007, Edson abriu o capital da empresa na bolsa de valores – o Initial Public Offering (IPO), fazendo a receita saltar para 4,8 bilhões de reais em 2009. No mesmo ano adquiriu a Medial, por 1,2 bilhão de reais.

Um curiosidade é que, mesmo sendo presidente da empresa, durante muito tempo ele usava o título de gerente de treinamento na sua identificação. Decidiu estudar em Harvard mesmo sem falar inglês, quando já estava com mais de 40 anos e administrava mais de 20 hospitais. Ele chegou a concluir quatro cursos de administração, três deles em Harvard.

Em 2012, a United Health Care Group (UHG), maior empresa de saúde do mundo, aceitou a oferta que Edson havia feito, de 90% da sua empresa, pagando o valor de  10 bilhões de reais. O médico reteve uma participação no capital e permaneceu como CEO, além de comprar 0,8% da americana, tornando-se o primeiro estrangeiro a estar entre os diretores da maior empresa de saúde do mundo. Em 2014, ele comprou o controle da Dasa Diagnósticos (bandeiras Delboni Auriemo e Lavoisier).

O fundador da Amil foi vice-presidente da Federação Nacional de Saúde Suplementar (FenaSaúde) e presidente do Conselho Diretor do Instituto de Estudos em Saúde Suplementar (IESS). Seu legado é a maior operadora de saúde do país, segundo a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), com uma rede de mais de 1.800 hospitais e perto de 7 mil laboratórios credenciados, segundo dados da companhia. A carteira de clientes é de 6,2 milhões de vidas. Em 2016 sua empresa alcançou R$ 20,5 bilhões em faturamento.

Edson era dono de uma fortuna estimada em 1,9 bilhão de dólares  e era o 15º homem mais rico do Brasil, segundo a lista da Forbes.

 

Fonte
Revista ExameForbesValor EconômicoIsto É DinheiroJornal O GloboMárcia Peltier Entrevista 2009Livro Bilionários: O que eles têm em comum além de nove zeros antes da vírgula? por Ricardo Geromel
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