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Administrador de um gigantesco legado sua meta de vida era morrer trabalhando

 

Engenheiro e grande empresário brasileiro, Antônio Ermírio de Moraes deu continuidade ao legado construído pelo pai José Ermírio de Moraes, pernambucano que adquiriu uma empresa de tecelagem no bairro de Votorantim, em Sorocaba, fundada pelo avô materno em 1918 e a transformou no grupo Votorantim.

Antônio Ermírio nasceu em São Paulo, em 4 de junho de 1928, em um casarão localizado na avenida Paulista, quase esquina com a atual rua da Consolação, próximo ao Estádio do Pacaembu. Aos quatro anos, começou a frequentar o jardim de infância no Colégio Elvira Brandão, ainda na alameda Jaú. Completou o curso ginasial e o colegial no Liceu Nacional Rio Branco e foi nessa época que  Antônio desenvolveu grande apreço por literatura clássica e quase foi convencido por um professor a seguir a carreira de advogado. Mesmo tendo cogitado a possibilidade, optou pela engenharia, estudando na mesma escola em que seu pai estudara nos Estados Unidos: Colorado School of Mines.

Em meados de 1945, aos 16 anos Antônio embarcou para os Estados Unidos e só retornaria em 1949. Seu plano inicial era fazer engenharia de petróleo, mas ao receber uma correspondência de seu pai lhe alertando sobre a criação da Petrobrás e a possibilidade que ele se tornasse funcionário público, mudou sua estratégia e mudou para metalurgia. Formou-se antes de completar 21 anos.

“Procuro induzir na nova geração que a riqueza externa não interessa. O que importa é a função social.

Mais tarde, Antônio confessaria em entrevista que gostaria de ter tirado seu PhD em ciência, tecnologia ou em artes. Mas, faltando pouco para terminar o mestrado e seguir para o doutorado, seu pai lhe chamou de volta ao Brasil. Um dia após seu retorno ao Brasil, às 6h30, no café da manhã, o pai chamou o filho para anunciar-lhe que ele trabalharia um ano na Votorantim, sem salário, como um período de experiência. Mas arrematou com: se você não der certo, quero que procure emprego em outro lugar.

A entrada de Antônio Ermínio nos negócios do pai não garantiram uma vida fácil. Antônio era conhecido por ser um homem rígido e aficionado pelo trabalho, além de doar suas horas fora da Votorantim para a filantropia. Costumava dizer que “poderia ter feito mais”, quando falava sobre seus mais de 30 anos dedicados ao hospital Beneficência Portuguesa.

Seu começo na empresa foi na Siderúrgica Barra Mansa e seu desempenho agradou ao pai, que  logo lhe confiou a Companhia Brasileira de Alumínio (CBA), que estava empacada a anos. A inauguração veio finalmente em 1955, a primeira processadora desse metal no país e 50 anos depois, tornou-se a segunda fabricante de alumínio primário do país, uma das 10 maiores do mundo e a proprietária da maior unidade verticalizada do planeta. Nessa época Antônio já havia se casado com Maria Regina, com quem teve nove filhos: Antônio Ermírio Filho, Carlos Ermírio, Rosa Helena, Mário Ermírio, Luis Ermírio, Vera Regina, Rubens Ermírio, Maria Lúcia e Maria Regina.

 

“Tenho vários defeitos. Um deles é não ligar para dinheiro. Quem se preocupa muito com ele morre logo.”

 

Antônio priorizou a construção de hidrelétricas próprias para alimentação das companhias da família, tirando a dependência da empresa Light na época. A primeira, dentre as 18 usinas da empresa, foi finalizada em 1958. Realizador de sonhos antigos do pai, Antônio entrou nos segmentos de zinco e níquel e criou em 1969, a Companhia Mineira de Metais (CMM), hoje, englobada pela Votorantim Metais, é a maior fabricante do metal na América Latina e a quinta do mundo.

Cautela e prudência foram marcas da gestão de Antônio na expansão da Votorantim. Em 1970, mesmo com a proposta do BNDES de aportar Cr$ 1 bilhão para produzir 20 mil toneladas de níquel ao ano, Antônio tocou o projeto em Niquelândia (GO) com recursos próprios  – até a geração de energia.  Antônio Ermírio foi responsável pela diversificação e ampliação dos negócios do pai, transformando o Grupo Votorantim em um dos maiores conglomerados privados do mundo. Workaholic por natureza conta só ter tirado férias por duas vezes: “Fiz as contas e concluí que as férias e finais de semana que deixei de aproveitar significam 14 anos de vida. Não é uma lamentação, mas uma constatação.” Antônio já havia afirmado em entrevista que seu plano era morrer trabalhando.

O empresário também foi membro de diversas organizações beneficentes, entre elas, a Associação Cruz Verde de São Paulo, a Fundação Antônio Prudente e os anos dedicados ao Beneficência Portuguesa de São Paulo, da qual foi presidente de forma filantrópica de 1971 a 2008. Foi também presidente do Hospital São José do Paraíso.

Ele se comprometeu pessoalmente a ajudar o concerto com as crianças de Heliópolis, que até hoje é sustentado pela Votorantim. Várias vezes foi a Heliópolis pessoalmente ver de perto como ia o projeto. Conhecido pela vida simples que levava junto a família, mesmo que estivesse entre os homens mais ricos do mundo, com fortuna avaliada em US$ 3,9 bilhões, segundo o ranking da Forbes, sempre foi conhecido com um homem humilde e sem ostentações. Adorava andar a pé pelas ruas sem seguranças e com roupas surradas. Apesar de receber críticas sobre seu jeito de se vestir ele sempre afirmou não ligar para a embalagem. Carregava uma expressão séria e sisuda que não condizia com sua simpatia.

Em 1986, Antônio candidatou-se ao governo do Estado de São Paulo pela União Liberal Trabalhista (PTB, PL e PSB). Apesar de liderar as pesquisas acabou perdendo as eleições e logo após, retirou-se do PTB.

Ele foi um dos empresários que com outras lideranças assinaram, em 1978, o “Documento dos Oito”, que pedia a volta da democracia. Atuou no movimento das ‘Diretas Já’ e sempre falou abertamente sobre política e suas preferências. Escreveu crônicas dominicais para a Folha de S.Paulo por 17 anos e o gosto por escrever, junto com o apreço que tinha pelas artes, o levaram a se arriscar em uma nova experiência: autor de peças de teatro. Escreveu a peça teatral Brasil S.A., encenada em 1996, com investimentos vindos do próprio bolso. Também escreveu as peças SOS Brasil e Acorda Brasil, ambas também encenadas. Em 2006, publicou o livro Educação pelo amor de Deus! E em 2007, lançou o livro Somos todos responsáveis.

Nesse interím, além de ter se tornado membro da Academia Paulista de Letras, tomou posse como conselheiro administrativo do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável e recebeu o título de presidente emérito da Federação da Indústria do Estado de São Paulo (Fiesp).

Em 2006, foi diagnosticado com Alzheimer e hidrocefalia. Em 2008, aos 80 anos, Antônio se afastou do dia a dia da Votorantim pelas questões de saúde. Com 86 anos, faleceu de insuficiência cardíaca em 2014. Um ano antes, sua vida foi retratada pelo sociólogo José Pastore em uma biografia: “Antônio Ermírio de Moraes: Memórias de um Diário Confidencial”.

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Portal G1TerraEndeavorebiografiaForbesEconomia EstadãoSuno ResearchExameVotorantim 100IstoÉRoda Viva 1988Acervo FGVVejaJornal GazetaDocumentário Produção Já Filmes 2013Programa Gente de ExpressãoEntrevista Jô Soares 1988Programa Provocações,1987 - Tv Cultura
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