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A dama italiana que revolucionou o setor têxtil no Brasil

A figura empreendedora histórica e mais importante da indústria da moda no Brasil foi Gabriella Pallavicini Pascolato, falecida no dia 22 de agosto de 2010, aos 93 anos.  Nasceu em Piemonte, Itália, na família dos aristocratas Pallavicini. Suas famílias paterna e materna eram donas de terras. Logo, o caminho do empreendedorismo não foi algo planejado por Gabriella, que até seus 23 anos, formada para ser tradutora, nunca havia exercido nenhum trabalho formal.

Sua formação se dividiu entre Florença e a Faculdade de Línguas em Veneza, onde tornou-se fluente em 6 idiomas. Na mesma época conheceu seu marido, Michele Pascolato, vindo de família de políticos intelectuais e falecido em 1988. Ao final da Segunda Guerra, preocupada com os horrores do fascismo, Gabriella propôs ao marido se mudar para o Brasil junto com os dois filhos. Chegaram a passar 40 dias em um campo de refugiados na Suíça, antes de embarcarem na longa viagem que se seguiria de navio, chegando ao Rio de Janeiro em 1944. Logo mudaram-se para São Paulo, acolhidos pela família italiana Matarazzo, amigos de longa data da empreendedora.

Aos 28 anos, minha maior preocupação era proteger minha família.

Ainda na Itália, Gabriella recebeu do amigo Salvatore Ferragamo, os direitos como representante oficial de sua marca de sapatos na América do Sul. No Brasil, a empreendedora trabalhou com a venda dos sapatos do amigo a lojas de luxo da capital, até ser instaurado o controle das importações de produtos de luxo, em 1946. O berço e a proximidade com a alta costura que a empresária tinha abriram portas para que, no ano seguinte, trabalhasse para duas grandes casas de moda de luxo em São Paulo.

O tino empreendedor acendeu quando Gabriella, diante de uma produção têxtil nacional limitada, que só fazia algodão de qualidade, decidiu produzir seda. Ela já estava de olho no sucesso que Christian Dior estava fazendo no exterior com o lançamento do New Look, com saias de quase 20 metros de tecido usando tafetá de seda pura. Como esse tipo de tecido não existia no Brasil, viu ali a oportunidade.

“Eu acho que ninguém que fizesse fios naquele tempo tinha a experiência prática de ver tecidos finos como eu tinha.”

Os primeiros passos foram dados em 1948, ao comprar uma carga de tecidos finos italianos que estavam encalhados dentro de um navio, rejeitados por conta da proibição da importação daquele tipo de produto. A venda dos tecidos para estilistas, decoradores e lojas de alta costura foi tão rápida que logo depois a empreendedora descobriu que bancos recebiam fio de seda como pagamento de dívidas de imigrantes. O marido comprou a seda dos bancos e com um empréstimo conseguiu abrir a primeira fábrica Santa Constância.

Os tecidos de decoração foram a primeira aposta e se estendeu pelos anos 60 com a seda, voltando-se para o setor da moda. Ainda nos anos 50 a Santa Constância já era a tecelagem mais respeitada do Brasil, referência na moda e nos processos industriais têxteis no país. Nos anos 70, as alfaiatarias, costureiras e a exclusividade das peças eram substituídas pela escalada da indústria aliada à moda. Foi quando o Prêt-À-Porter realmente se difundiu pelo mundo e deu mais força a Santa Constância. Inventou a marca Liganetti, que com o tempo veio a se confundir com o produto, ficando na lembrança das pessoas.  

O complexo industrial aliou-se a pesquisas e produção de conhecimento em tecelagem, conseguindo inovações têxteis no Brasil. Criou o Lycra Cotton e desenvolveu tecidos inteligentes pioneiros no mercado, atestados por especialistas em medicina esportiva e utilizados na prática por atletas em diversas modalidades.

Ser dona e idealizadora da maior e mais imponente tecelagem do Brasil nunca esteve nos sonhos de Gabriella Pascolato. Foram mais de sessenta anos assistindo a desfiles de moda nos Estados Unidos, França, Itália, e edições de moda aqui no Brasil como o SPFW. Neste mesmo evento, em Julho de 2003, a empreendedora foi convidada a desfilar para a Zapping, aos 86 anos, sob o título de rainha da moda brasileira. Também ganhou uma biografia em 2007, batizada de “Gabriella Pascolato – Santa Constância e outras Histórias “, escrita por Sérgio Ribas. O livro foi um presente dos filhos em comemoração aos seus 90 anos.

O parque industrial da Santa Constância possui processos digitais de última geração com capacidade para produzir 15 milhões de metros anuais de tecidos e dispõe de um banco de imagens com mais de 40 mil desenhos. A garantia da alta qualidade dos tecidos está em um DOC – Denominação de Origem Controlada – criada pela empreendedora, e seu legado para a moda no Brasil perpetua-se hoje através da filha Costanza Pascolato, conhecida como a “Papisa da moda brasileira”.

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Consuelo BlogTerraFashion BubblesVeja SpSanta ConstanciaPrograma do Jô 21 Ago 2007Canal StaConstancia - Santaconstancia, tecendo história no têxtil
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