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O comandante do povo: ele transformou a aviação nacional através do cliente

 

O comandante Rolim Adolfo Amaro é reconhecido como o homem que humanizou a aviação nacional. Falecido em virtude de um acidente de helicóptero em 2001, aos 58 anos, Rolim ausentou-se da presidência da TAM quando sua companhia empregava 8 mil colaboradores, 98 aviões, transportava um milhão e meio de passageiros por ano e conseguia um faturamento anual de mais de um  bilhão de dólares em dez anos de lucros consecutivos.

Rolim nasceu no dia 15 de setembro de 1942, em Bela Floresta, distrito de Pereira Barreto (SP). Filho mais velho de 5 irmãos, viveu seus primeiros anos em uma casa de sapé, sem luz nem banheiro. Com as dificuldades financeiras mais agravadas, a família mudou-se para a região de São José do Rio Preto, onde passaram a cuidar de um armazém de secos e molhados. Morando nos fundos da loja, onde a sala também era o depósito, foi ali que Rolim viveu dos seis aos dez anos de idade. Já seu amor pela aviação nasceu quando viu seu tio, Joaquim, dono de um avião Paulistinha e fundador do Aeroclube de Birigüi, aterrissar seu avião em um campo de futebol. Aos sete anos, voou com o tio pela primeira vez.

Rolim estudou em escola rural e depois deu continuidade no internato colégio Dom Bosco, onde ficou até os 13 anos de idade. A família não tendo mais condições de mantê-lo na escola, ele foi atrás do primeiro emprego, trabalhando desde ajudante de motorista de caminhão, operando máquina de arroz e trator, até  locutor no cinema da cidade.

“O sucesso acontece quando a oportunidade encontra a vontade.

Com 16 anos, foi balconista na mercearia do pai e chegou a frequentar a Escola Técnica de Comércio, mas a paixão pela aviação ainda estava viva. Escondido dos pais, decidiu pagar horas de instrução no Aeroclube de Catanduva, e com a venda de uma lambreta financiada ele conseguiu pagar o início do curso de pilotagem. Porém, para tirar o brevê ele precisava cumprir 45 horas de vôo, mas seu dinheiro só pagava 22h. Mudou-se para Catanduva a custo de se desfazer de pertences pessoais de grande valor sentimental, levando na maleta apenas uma única calça preta, um par de sapatos, dois pares de meia e duas camisas. Morava na pensão mais barata e tinha de escolher se almoçava ou jantava. O dinheiro vinha de trabalhos constantes como taxista na noite – utilizando um carro emprestado – e de dia ajudava os pilotos do Aeroclube na manutenção, o que o ajudava a ser convidado para voar como segundo piloto e completar mais que as 45 horas necessárias para tirar o brevê.

Pendente quanto ao pagamento da inscrição no exame final, e sem nenhum centavo, Rolim pediu ajuda a um tio, que lhe disse que aquilo era um curso de vagabundo e se ele quisesse dinheiro, que fosse trabalhar. Quase perdendo suas esperanças, a ajuda veio de um amigo que não pensou duas vezes em lhe emprestar o valor. Rolim conseguiu prestar o exame e começou sua trajetória pilotando aviões de fazendeiros, como táxi-aéreo. Chegou a ser instrutor no Aeroclube de Ibitinga. Teve seu primeiro acidente aéreo aos 19 anos, enquanto levava um doente terminal para o sudeste de Minas Gerais. Apesar de todos terem sobrevivido, o acidente havia marcado Rolim de forma profunda, como um fantasma a persegui-lo.

 

“Tudo o que eu faço é para o cliente.”

 

Começou a trabalhar para a Companhia Mariliense de Táxi Aéreo, a Comtax, situada em Londrina, no Paraná. Lá, Rolim morou nos fundos do Hangar, onde fazia muito frio, mas sem dinheiro para comprar cobertores, embrulhava-se em jornais. Sua rotina era levar os aviões do pátio para o hangar, ajudava na manutenção, aquecia os aparelhos para os pilotos e a noite, enquanto fazia a limpeza, aproveitava para comer as sobras dos lanches dos passageiros.

Em 1963, conseguiu uma vaga de piloto  na Aero-Rancho, mas pouco depois acabou sendo demitido e passou a viver de bicos. Logo chegou ao seu conhecimento que a Transportes Aéreos Marília – conhecida pelas suas iniciais: T.A.M – estava com dois aviões sem piloto. Rolim pediu o emprego e conseguiu ser admitido, porém, como o último piloto da escala. Conheceu seu futuro sócio, Orlando Ometto, nessa época. Orlando havia adquirido 50% da TAM e comprado uma grande área ao sul da bacia amazônica, vislumbrando um grande projeto agropecuário. Em 1965, Rolim aceitou o convite de Orlando de trabalhar em meio a amazônia, fazendo o transporte de cargas e pessoas. Ele teria comida de graça, mais horas de voo, além de ganhar mais sendo o único piloto. Ao aceitar, Rolim esperava juntar bastante dinheiro e depois voltar. Chegou a pegar malária 7 vezes.

Foram dois anos na região. O escritório central da TAM mudou para São Paulo e Rolim passou a morar perto do aeroporto de Congonhas. Orlando se tornou acionista majoritário da TAM, mas em 1967, Rolim decide pedir demissão após receber uma oferta de emprego na Líder, maior empresa de táxi aéreo do país, sediada em Belo Horizonte. No início de 1968, Rolim retorna a São Paulo após pedir demissão da Líder por entrar em conflito por melhores condições de trabalho. Ingressou na VASP como co-piloto, mas ganhava mal. Foi demitido ainda em 68, mas logo conseguiu emprego como comandante para o Sesc/Senac, serviços de assistência do comércio, ganhando dez vezes mais que na VASP. Porém, frente a uma nova proposta para trabalhar na Amazônia, Rolim decidiu partir novamente e foi onde conseguiu constituir sua própria empresa de táxi aéreo chamada de Araguaia Táxi Aéreo, ATA, que operava entre Goiânia e Santa Teresinha. Ao fim de dois anos no Araguaia, Rolim contava com dez aviões e uma boa poupança. Orlando Ometto, que já era dono de 100% do capital da TAM em 1971, convidou Rolim para ocupar o cargo de executivo. Em 1972, Rolim mudou-se para São Paulo e assinou o contrato no qual ficaria com 50% da TAM.

O estilo próprio de administração de Rolim focou-se em um primeiro momento na melhora da qualidade da frota da companhia, que era ainda pequena e ultrapassada, além de sempre manter firme e claro o objetivo de conquistar os clientes. A TAM com o tempo passou a ser um pouco mais respeitada e Rolim tirou a empresa do vermelho. Orlando passou a exercer a maioria da sociedade da companhia, mas entre 1975 a 1977, Rolim tentou comprar a parte de Orlando, que deu o valor de 2 milhões de dólares, em que Rolim aceitou pagar à prazo.

Apesar de ser presidente da empresa, Rolim entendia que tinha de ser igual aos outros e se colocar a serviço do cliente. Foi pioneiro em terceirizações, organizou o primeiro curso de comissárias, colocou o co-piloto para servir café aos passageiros, passou a oferecer em seus voos sanduíche de queijo, bolachas, bombom e guardanapo, inaugurando o serviço de bordo. Seu grande patrimônio, não eram os aviões, mas os passageiros. Levantava às 4 horas da madrugada e chegava à TAM às 6 da manhã, fiscalizava pessoalmente e minuciosamente a limpeza  e só se dirigia para seu escritório depois de conversar com os clientes no saguão do aeroporto.

Em 1991, Rolim foi diagnosticado com um tumor nas cordas vocais e se submeteu a duas cirurgias no exterior. Curado, afastou-se dos problemas administrativos para se dedicar aos clientes, criando o “Fale com o Presidente”, em 1992. Voava pela própria companhia para averiguar os serviços e criou promoções como o “Dê-me uma idéia e eu te darei um bilhete”, assim como o Cartão Fidelidade. Rolim conseguiu a marca de 10 milhões de passageiros transportados em toda a história da companhia. A TAM recebeu o prêmio “Top de Marketing” em 1994 e Rolim foi eleito Homem de Vendas do ano. O jornal econômico Gazeta Mercantil o apontou como líder do setor pela primeira vez — repetiria a indicação nos três anos seguintes e em 2000.

O ano de 2001, no entanto, foi especialmente trágica para a aviação brasileira, marcada pela morte do comandante em 8 de julho, aos 58 anos. Em 2011, A LAN e a TAM assinam os acordos vinculatórios, combinando negócios entre as duas companhias. A operação avaliada em US$ 3,8 bilhões criou a LATAM Airlines Group, como conjunto das operações da LAN e da TAM, maior companhia da aviação comercial da América Latina.

Fonte
Valor EconômicoPortal G1Monografia A memória como fundamental na construção da cultura organizacional de uma empresa: o caso TAM Blog José Roberto Marques CoachingPortal Brasil EscolaBlog Cultura AeronáuticaPortal TerraFolha de S. Paulo ForbesEconomia IGLATAMCanal Thales Guaracy - O Sonho BrasileiroCanal Aero Por Trás da AviaçãoIsto É DinheiroLivro O Sonho Brasileiro, por Thales Guaracy
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