Paulo Machado de Carvalho está na lista dos maiores empreendedores da comunicação brasileira. Nasceu em 1901, na cidade de São Paulo, dentro de uma bem sucedida família de classe média. O pai havia sido presidente da Associação Comercial de São Paulo, enquanto sua mãe era filha do governador do Paraná, Brasílio Augusto Machado de Oliveira. A família morava em um casarão da rua das Palmeiras, na capital paulista e naquela época, seguindo as expectativas do pai, Paulo formou-se bacharel em Direito pela Faculdade de Direito do Largo São Francisco, além de passar dois anos na Suíça. No entanto nunca exerceu a profissão.
A porta de entrada de Paulo Machado na área das comunicações foi no rádio, em 1931, quando ele tinha 30 anos. Naquele ano, desfazendo-se de uma empresa de luminosos que tinha, tomou conhecimento da venda de uma casa de discos que chamava-se Record e onde também funcionava uma pequena rádio com o mesmo nome – fundada em 1928 por um grupo de empresários paulistas -, mas estava sem uso. Apesar de Paulo não fazer a mínima ideia de como funcionava uma rádio, aceitou comprar a rádio, que foi adquirida por algo próximo a quinze mil cruzeiros, dividido o valor com mais dois amigos-sócios: João Amaral com cinco e Jorge Alves de Lima, com cinco.
O estúdio ficava na Praça da República, um espaço de cinco metros, por oito metros, por uns dez metros. Adquirir uma rádio naquela época nem era considerado de fato bom negócio, já que a publicidade nas emissoras só foi permitida pelo governo a partir de 1932 e foi algo que a própria mãe tentou dissuadi-lo de fazer.
A frente da rádio, Paulo fez de tudo: de domingo a domingo era telefonista, discotecário, arquivista, dava recibo, tirava fatura, selecionou músicas, dirigiu programas e envolveu sua emissora diretamente nos acontecimentos políticos da época, como a Revolução Constitucionalista, incentivando o exército paulista e buscando notícias exclusivas sobre o que acontecia nas ruas. Os protestos contra o governo de Getúlio Vargas, em 1932, ganhavam repercussão na rádio Record, que em poucos meses cresceu em audiência, prestígio e principalmente recursos financeiros, com a chegada cada vez maior de anunciantes e novos sócios. Criou noticiários jornalísticos e programas de futebol que deram a programação da emissora uma cara moderna e popular. Conta-se que o primeiro jornal falado da rádio Record foi feito por Assis Chateaubriand. Grandes nomes da música popular da época, como Carmen Miranda e Orlando Silva se apresentaram lá, elevando a pequena rádio ao status de maior canal de comunicação da capital paulista da época.
Na década de 40, a Rádio Record recebeu a concessão do canal 7 de São Paulo, mas a TV Record de São Paulo só veio ser inaugurada em 1953, com todos os equipamentos importados dos Estados Unidos. Paulo Machado também adquiriu a Rádio Panamericana em 1944, englobando-a a Rede de Emissoras Unidas de Rádio, criada por ele e do qual fazia parte a rádio Excelsior, vendida no final dos anos 50 para a família Simonsen, a Rádio São Paulo – mais voltada para radionovelas -, a Rádio Bandeirantes – vendida para Adhemar de Barros em 1948 – e Rádio Cultura.
A rádio Panamericana tornou-se rádio Jovem Pan em 1956, inspirando-se no sucesso do programa Jovem Guarda, da TV Record e hoje se divide em Rede Jovem Pan, Jovem Pan News e Jovem Pan FM, mas apenas as rádios Jovem Pan AM e FM pertencem à família Machado de Carvalho. A TV Jovem Pan, criada em 1991, também foi vendida para o Grupo MIX de Comunicação, em 1995.
A TV Tupi e a TV Paulista eram as únicas concorrentes da TV Record na época de sua inauguração. Para enfrentar a concorrência da TV Tupi, em 1957 Paulo associou-se a João Batista “Pipa” do Amaral, fundador da TV Rio, na então Rede de Emissoras Unidas de Televisão, criada em 1959 e que viria a se tornar o conglomerado Rede de Emissoras Independentes, REI, em 1968, um dos maiores do país.
Chegou a enfrentar três incêndios na TV Record e, sem seguro, partiu das cinzas para reerguer tudo de novo. Aliás, os muitos incêndios sofridos levaram à emissora a uma situação financeira extremamente delicada, aliando-se ao fato de que Paulo era avesso à seguros. Apesar dos infortúnios a TV Record chegou a ser líder no Ibope durante os anos 1960. Outro grande empreendedor das telecomunicações em nosso país, Silvio Santos, chegou a ser sócio da empresa na década de 1970, mas a REI não perdurou por divergências entre as emissoras carioca e paulista. Em 1989, a TV e Rádio Record foram vendidas para Edir Macedo, líder da Igreja Universal do Reino de Deus.
Paulo Machado foi uma personalidade atuante também na área do esporte, como vice-presidente do São Paulo da Floresta, depois tornou-se dirigente do recém criado São Paulo Futebol Clube, onde viria a ser presidente, entre 1946 e 1947, e vice-presidente, entre 1955 e 1956. Em 1957, assumiu o departamento de futebol, cargo que já tinha ocupado entre 1942 e 1947.
Ficou conhecido como “Marechal da Vitória”, por ter sido o chefe da delegação brasileira em duas Copas do Mundo, campeãs em 1958 (Suécia) e 1962(Chile). Em 1961, o Estádio do Pacaembu passou a se chamar Estádio Municipal Paulo Machado de Carvalho. Seu último cargo esportivo foi em 1970, como vice-presidente da Federação Paulista de Futebol.
Paulo Machado foi casado com Maria Lucia Chaves do Amaral, união da qual vieram os filhos: Paulo Machado de Carvalho Filho (falecido em 14 de setembro de 2010), Erasmo Alfredo Amaral de Carvalho (falecido em 10 de julho de 1990 ) e Antônio Augusto Amaral de Carvalho (conhecido como Tuta).
Em 07 de março de 1992, Paulo Machado de Carvalho faleceu aos 91 anos, deixando a segunda geração de comunicadores da família responsável por tocar os negócios. Paulo Machado de Carvalho Filho passou a dirigir a Rádio Panamericana ainda em 1944. Machado de Carvalho Filho estruturou um grupo de rádios dedicado a jornalismo, esportes e entretenimento, além de presidir a Abert – Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (1980-1982). Antonio Augusto Amaral de Carvalho (Tuta), começou a trabalhar no grupo familiar com 18 anos e foi diretor da Rádio Panamericana de 1949 a 1953. Foi diretor de reportagens externas e de programação da TV Record, diretor da Jovem Pan AM (1964-2014) e criador da Jovem Pan FM em 1976. Em 2006, transformou a Jovem Pan AM na rede all news Jovem Pan News.