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Táxi e unicórnio Brasileiro não é folclore, é negócio bilionário

 

Antes de fazer parte do trio que fundaria a primeira empresa brasileira a valer US$ 1 bilhão, ganhando o título de “Unicórnio” Brasileiro, Paulo Veras passou por empresas de grande porte e criou várias startups que foram posteriormente vendidas. Ele é autor do livro “Por Dentro da Bolha” – que conta sua vivência na chegada da internet ao Brasil e já ganhou o prêmio Faz Diferença, do jornal O Globo. Com a experiência de gestão e expertise nos negócios, Paulo ajudou que o 99 (ex- 99Taxi), com apenas 6 anos no mercado, estreasse como a primeira empresa brasileira nessa lista seleta com empresas americanas e chinesas.

Na década de 80, em meio a um cenário tecnológico incipiente, sua primeira experiência com um computador foi com o modelo TK 85 que um amigo tinha, onde os dois brincavam de fazer programas. Em outra oportunidade, quando sua irmã comprou uma calculadora para faculdade que programava em linguagem Basic, Paulo, curioso, pegou o manual para entender como funcionava e foi quando aprendeu a programar.

É incrível como a tecnologia facilita a vida das pessoas. E você precisa de empreendedores para fazer essa ponte entre o mundo atual e o que está por vir.

Na faculdade, estudante de engenharia mecatrônica pela USP, teve a primeira oportunidade de pôr em prática seus aprendizados de programação ao criar um sistema inteiro de software de gestão para uma clínica médica do amigo de seu pai. Só alguns anos mais tarde Paulo se deu conta de que ele perdeu a grande oportunidade de criar a primeira empresa de software de gestão do Brasil.

Ainda na faculdade, ele começou a estagiar na multinacional ABB (Asea Brown Boveri), na área de automação de usinas hidrelétricas. No entanto, o ritmo corporativo e a burocracia desanimavam o empreendedor, que tomou a iniciativa de unir-se a velhos amigos para montar um negócio na área de tecnologia, surgindo então a Tesla, uma empresa de criação de sites e ecommerce, em meados dos anos 90. Na mesma época criaram o Guia SP, que foi o primeiro guia online do país e serviu de portfólio para  que a equipe recebesse vários projetos posteriormente. Como muitos desses projetos dependiam do seu tempo, conciliando seu trabalho entre a ABB e a Tesla, aos 23 anos, 1996, Paulo tomou a decisão de abdicar de seu trabalho na multinacional e dedicar seu tempo integral a sua startup.  Seus pais, que vislumbravam para o filho uma carreira tradicional e segura, viram sua decisão como uma loucura.

 

“Vários investidores disseram: ‘Você, uma ‘startupizinha tupiniquim’, quer dinheiro para brigar com a Uber?’”

 

No ano de 2000 a Tesla conseguiu um aporte de quase US$5 milhões pelo JPMorgan e tempos depois, venderam o GuiaSP para a Starmedia. Foi durante as conversas com a JPMorgan que Paulo descobriu que a Tesla nunca havia dado lucro real, mas mesmo assim o banco manteve seu investimento. Com objetivo de aperfeiçoar o lado administrativo que lhe faltava, o empreendedor passou um ano cursando MBA na escola francesa de negócios INSEAD e quando voltou ao Brasil percebeu que a maior parte das empresas listadas como modelo de negócio para a Tesla haviam desaparecido. Preocupado com a sobrevivência da sua empresa, propôs a modificação do plano de negócios, mas sem conseguir apoio dos sócios, Paulo decidiu abandonar o barco e experimentar um ano sabático, viajando pelo mundo.

Quando retornou, trabalhou na empresa Gradus atendendo empresas como Ambev e GP Investimentos, mas aproximou-se novamente do mundo do empreendedorismo ao ser convidado para dirigir a Endeavor Brasil. Sua primeira empresa pós hiato foi a produtora de vídeos Pixit, criada em 2009, e vendida para o grupo MZ em 2012. Algumas falhas também ocorreram pelo caminho, como a criação de um guia de cidades chamado Guidu e o Imperdível.com, que foi um site de compras coletivas que em seis meses empregava 100 funcionários e tinha um faturamento de milhões por mês, mas 3 meses depois Paulo percebeu que o negócio não se sustentaria por muito mais tempo e acabou vendendo sua parte. Sem sucesso com as suas duas últimas criações, a grande nova oportunidade surgiu através de dois jovens em 2012: Ariel Lambrecht, de 33 anos, e Renato Freitas, 30 anos.

Ambos ex-alunos da USP, a dupla havia começado o aplicativo da 99Taxi e convidaram Paulo Veras que, no primeiro momento, recusou participar da empreitada, pois carregava a preocupação da falta de recursos. Apesar de todas as narrativas desfavoráveis, Ariel e Renato conseguiram mostrar a Paulo que a estrutura do aplicativo estava bem feita, fazendo com que o empreendedor desse uma chance à ideia. O início da 99Taxi se deu com um investimento inicial de R$ 50 mil do bolso dos próprios sócios, onde Paulo se dedicava especificamente à gestão do negócio. Sem financeiro para expansão, o aplicativo focou-se no mercado da capital paulista, cortando as taxas dos taxistas e apostando no marketing boca a boca. O aplicativo  viria realmente a se popularizar entre os motoristas quando adotou a prática de indicar, de acordo com os GPS, os carros que poderiam chegar mais rápido ao passageiro, o que na visão deles era o mais justo.

Os taxistas procuravam o escritório da startup no bairro Jabaquara, região sul de São Paulo e era Ariel quem fazia pessoalmente o cadastro dos motoristas no celular. Foram 6 meses para conseguir apenas 200 cadastros, mas em 2013 a procura realmente aumentou no escritório, obrigando os sócios a contratarem funcionários para atender a demanda por cadastros. O primeiro investimento veio do fundo brasileiro Monashees, com capital semente de cerca de R$ 500 mil  e em 2015 a Tiger Global investiu US$ 15 milhões no app. No total, a 99Taxi, em cinco rodadas de investimentos, conquistou US$ 240 milhões, permitindo que a empresa se expandisse para outras capitais brasileiras.

Quando lançaram no mercado o 99Pop em 2016, a 99taxi tornando-se a única empresa no Brasil oferecendo um portfólio completo de mobilidade e a principal competidora da Uber em solo brasileiro. Em 2017 os empreendedores conseguiram fechar a maior rodada de Venture Capital da história do país, com aporte total de mais de US$ 200 milhões vindos da gigante chinesa DiDi Chuxing e do japonês SoftBank Group. No ano seguinte a chinesa DiDi oficializou a compra bilionária da startup por US$ 1 bilhão, fazendo com que a empresa alcançasse então o posto de primeiro Unicórnio Brasileiro.

O empreendedor, no entanto, precisou enfrentar muitos percalços, tanto na época de crescimento do negócio, quanto na área pessoal. Em 2014, como consequência da rápida expansão da empresa e a necessidade de uma nova sede, Paulo colocou seu apartamento em garantia. No mesmo ano, ele  recebeu um diagnóstico de leucemia e mesmo durante seu tratamento não deixou de receber seus sócios e tocar os trabalhos da 99.

Atualmente, o ex-CEO da 99, faz parte do conselho de administração da Localiza, além de participar dos conselhos da B2W e da Estapar.

Fonte
O Estado de S. PauloGazeta do Povo ExamePortal GlamuramaConteúdo StartseRevista GalileuTecnologia UolIsto É DinheiroFolha de S. PauloCanal Man in the Arena
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