Filha de imigrantes refugiados da 2ª guerra, pai português e mãe Italiana, a família morava em Itaquera, periferia de São Paulo, e foi onde Sofia Esteves cresceu e viveu até seus 15 anos. Humildes, seus pais se tornaram comerciantes, inicialmente, trabalhando com uma carrocinha que vendia miúdos de frango pelo bairro e mais tarde conseguiram abrir um açougue na região.
Caçula de três irmãos, Sofia estudava em escola pública e por diversas vezes, sem dinheiro para a condução, andava quilômetros para não perder aula. Muitas vezes o dinheiro do lanche também faltava. Aos 4 anos de idade, já era comum que Sofia se incomodasse com a realidade de várias crianças que ela via pelas ruas, abandonadas. Ainda pequena prometeu a sua mãe que ela iria cuidar das crianças e que um dia teria um orfanato.
Seu primeiro emprego formal foi aos 17 anos como recepcionista de um consultório médico. Formou-se em um curso técnico durante o colegial na área de arquitetura e escolheu cursar psicologia, firme no propósito de que aquilo a ajudaria a realizar sua missão de vida, que era cuidar de crianças. Para ajudar os pais a arcarem com a faculdade foi vendedora em uma loja de móveis até chegar ao cargo de gerente de vendas. Além do dinheiro sempre curto e as poucas horas de sono, Sofia sabia que sua escolha não foi vista com bons olhos por seus pais, já que os outros dois irmãos haviam escolhido áreas aparentemente mais promissoras, como medicina e economia.
“Os jovens falam muito em empreender, mas empreender é viver com uma montanha russa no estômago o tempo inteiro.“
Ao final da faculdade, sem conseguir trabalho pela falta de experiência, começou a trabalhar na pequena corretora de seguros do irmão. Até então Sofia não fazia a menor ideia do que era uma consultoria de RH e nem que sua profissão podia atuar na área.
Pelos classificados do jornal Sofia encontrou uma oportunidade em uma empresa de Recursos Humanos e resolveu arriscar. Ligou para a empresa e falou: “bom dia, eu tenho 23 anos, recém formada e um alto potencial a ser desenvolvido. Vocês não gostariam de me dar uma chance?” Ao ser questionada sobre sua pretensão salarial ela respondeu: “Estou pagando para quem me deixar começar”. Sofia conseguiu uma entrevista e a resposta veio alguns dias depois: “Já que você diz que tem esse talento todo, você entra na empresa como assistente de consultora. Se você se desenvolver, em três meses vira consultora. Se não, vai ficando como ‘assistentezinha’”.
Começou recebendo menos que um salário mínimo na época, trabalhando em um banheiro desativado transformado em sala. Com 15 dias já era consultora, em seis meses já era consultora sênior e após um ano se tornou gerente de uma nova unidade de negócios que ela estava abrindo para eles. Sofia começou a construir seu diferencial ali, quando tomou a decisão de fazer a entrega de currículos pessoalmente aos clientes, já que enviá-los pelos correios demorava e lhe dava a oportunidade de poder falar-lhes sobre cada um dos candidatos.
“Dinheiro é só consequência daquilo que a gente faz maior, daquilo que brilha nossos olhos.”
Sua atitude começou a chamar atenção e após 1 ano e meio, Sofia saiu da primeira empresa para gerenciar uma divisão de negócios de recrutamento e seleção de executivos para um headhunter, mas pediu demissão após 6 meses por não aceitar ordens que considerava anti-éticas, de um dos sócios da empresa. Desempregada e se sentindo perdida, recebeu a ligação de um diretor de RH de uma grande empresa nacional lhe convidando para fazer o processo de recrutamento e seleção para a empresa dele. O fato de Sofia ter apenas 2 anos de experiência profissional não foi barreira para o convite. Desafio aceito, Sofia alugou uma sala e abriu seu primeiro RH como uma profissional autônoma com o nome Decision Making, que depois virou a DMRH.
Sofia que via sua reputação e seu número de clientes e projetos crescendo pelo boca a boca. Em pouco tempo alugou outra sala ao lado da sua e com 6 meses ela conseguiu alugar o próprio escritório, sempre com o dinheiro contado, mas crescendo, até viver a primeira crise com a implementação do plano Collor.
Em março de 1990, sem dinheiro, viu 12 dos 17 projetos que estava desenvolvendo no escritório, serem suspensos só na parte da manhã. Negociou com suas três consultoras férias coletivas com o pagamento apenas dos encargos obrigatórios. Após dois meses, Sofia conseguiu chamá-las de volta para o trabalho.
Uma nova fase começou na vida de Sofia quando ela decidiu iniciar um trabalho voluntário de orientação de carreiras em universidades, criando o PIFE (Programa Integrado de Formação de Estagiários). O diretor da então Gessy Lever, hoje conhecida como Unilever, soube de seu trabalho e a convidou para conduzir o programa de seleção de trainees da empresa, pois não existia consultoria no Brasil que fizesse o trabalho. Sofia tinha 28 anos na época e nem sabia o que era trainees.
Até hoje a Cia de Talentos é hoje a maior empresa da América Latina de recrutamento, seleção e desenvolvimento de jovens para programas de estágios, trainees e MBA’s. A nova divisão veio a dar lucro somente após 13 anos, mas sempre fechando a conta no azul. Apesar de nunca ter pensado em empreender, Sofia construiu uma marca reconhecida nacional e internacionalmente, com mais de 200 funcionários, presença em 40 países e faturamento de 31 milhões de reais em 2016.
Além da trajetória profissional de sucesso, a missão de vida de Sofia hoje é realizada através do Instituto Ser+ , fundado em 2013. Sua ONG ajuda os jovens em situação de vulnerabilidade social, com idades entre 15 e 24 anos, a recebem apoio para identificar seus talentos e a conquistar o primeiro emprego.
Além de fundadora e presidente do Conselho do Grupo DMRH, Sofia, aos 56 anos, é professora no MBA em Recursos Humanos da FIA, Professora convidada em Orientação de Carreiras e Mercado de Trabalho no Insper em São Paulo e Palestrante convidada na Fundação Dom Cabral. Publicou os livros “Virando Gente Grande – Como Orientar Jovens em Início de Carreira Editora Gente” e coautora de “Carreira – Você está cuidando da sua?”. Foi ganhadora dos prêmios “Mulheres Mais Influentes do Brasil” na categoria Recursos Humanos em 2007, da Gazeta Mercantil e “Empreendedores do Novo Brasil” em 2006, oferecido pela revista Você S/A e Instituto Empreender Endeavor.