Pioneirismo e inovação foi a marca deixada por Raul Anselmo Randon, falecido em 3 de março de 2018, aos 89 anos. Criador do segundo maior pólo metal-mecânico brasileiro e segundo maior processador brasileiro de maçãs, o empreendedor de forma natural, além de consolidar suas empresas no segmento de veículos, soube expandir os negócios para os mais diversos ramos, como: maçã, vinho, queijo, carne suína e grãos.
Sua trajetória começou em Tangará, Santa Catarina, nascido em 6 de agosto de 1929, numa família de imigrantes italianos. A família mudou-se de Rio Bonito (Tangará) para Caxias do Sul, em 1939, quando Raul tinha 9 anos. Sob uma educação rígida e voltada para o trabalho, Raul precisou abandonar a escola após a mudança e continuou seus estudos tendo aulas com uma vizinha, que era professora. A lacuna na formação do empreendedor, diz-se ser sido compensada pelas habilidades naturais. Começou a trabalhar com o pai na pequena fábrica de ferramentas agrícolas no fundo de casa, muitas vezes das 7 da manhã às 7 da noite. Produzia ao menos 12 machados por dia e ainda encontrava tempo para ajudar a mãe a cuidar da horta.
“O que penso disso tudo é que no mundo há duas coisas que nunca vão parar: o transporte e a comida. Se produz comida, tem que transportar. E ninguém vai parar de comer“
Aos 18 anos, Raul foi prestar serviço militar obrigatório enquanto seu irmão mais velho, Hercílio, tornou-se aprendiz em reformas e manutenção de motores a explosão. Logo quando Raul retornou, recebeu o convite de seu irmão para trabalhar junto com ele em sua oficina de reforma de motores, nascendo assim a Mecânica Randon. Pouco depois, com a entrada de mais um sócio, os irmãos passaram a fabricar máquinas de tipografia para imprimir talões e notas fiscais, mas em 1952 um incêndio consumiu tudo. Com ajuda de amigos conseguiram um galpão onde deram continuidade com os motores, Hercílio se dedicava a parte técnica enquanto Raul estava na administração.
Em determinado momento, década de 50, Raul foi apresentado a um italiano que lhe sugeriu começar a fabricar freios à vácuo para reboques, aproveitando a demanda pelos serviços e produtos voltados para caminhões na região. Passaram então a diversificar a produção com terceiro eixo, semi-reboques e instalação de terceiro eixo em caminhões, direcionando seus negócios cada vez mais para o setor de transportes e lançando sua primeira filial em Guarulhos – SP na década de 60. Na mesma época, pensando no bem estar de seus funcionários, foi criada a Fundação Assistencial Abramo Randon.
“Acreditar no negócio e nas pessoas. Para mim, esse é o segredo do sucesso. Cercar-se de bons profissionais e parceiros também é fundamental.”
Na década de 70, a Randon produzia até então 700 reboques/ano, mas após Raul retornar da Europa, onde visitou uma feira de reboques e caminhões, percebeu que o Brasil tinha aproximadamente 80 milhões de pessoas e 80% do seu transporte concentrado em rodovias. Disse então ao seu irmão que a fábrica passaria a produzir mil unidades/mês. Tocaram o projeto com financiamento do BNDES e construíram a fábrica com 40 mil metros quadrados. Em três anos, negociaram com a Suécia a fabricação de caminhões fora-de-estrada, único caminhão feito por brasileiros no setor, tornando-se uma das maiores produtoras de semi-reboques do Brasil.
Nos anos 80, após enfrentar uma crise no volume dos negócios, a empresa chegou a pedir Concordata Preventiva à justiça mas logo se recuperaram em 84, quando ganharam uma concorrência para exportação na Argélia. Logo em 1986, uma joint-venture foi realizada com a Norte Americana Rockwell International, mas seu irmão Hercílio e sócio nos negócios veio a falecer alguns anos mais tarde. O tempo e o trabalho de Raul a frente da Randon continuou rendendo bons frutos e novas oportunidades no mercado internacional, como a fundação da Holding Randon Participações S.A., a abertura de uma subsidiária na Argentina, a criação da Randon Veículos Ltda., a associação a alemã Jost Werke AG, a associação a americana Arvin – Meritor e em 1996 a incorporação da Fras-le a Randon.
A diversificação dos negócios no setor agrícola veio ainda nos anos 80, sem nenhum planejamento prévio. Em uma época que o governo incentivava o reflorestamento através de isenções fiscais, Raul plantou uma muda de macieira que havia ganho nos fundos da casa sem muita pretensão. Os primeiros frutos vieram com a decisão de lançar-se também na produção de alimentos, surgindo a Rasip — Randon Agrosilvopastoril, segundo maior processador brasileiro de maçãs (30 toneladas de maçãs por hora) e também líder na produção e comercialização do queijo tipo grana Gran Formaggio e derivados – creme de leite, manteiga e queijo ralado (a primeira fábrica de queijo Grana da América Latina), sem esquecer também da produção de uvas, que possibilitou o investimento em vinhos variados.
O pioneirismo e a inovação são tão naturais a Raul que após perceber que o descarte do soro que sobrava da fabricação do queijo era complicado, logo enxergou uma oportunidade: “Já que os porcos se alimentam desse soro, resolvi investir no segmento de carne suína”. Passou então a criar suínos e fornecer a carne à Brasil Foods, uma das maiores empresas do setor. Em 2006 Raul retirou-se da Presidência Executiva e passou para a Presidência do Conselho Administrativo da Randon Implementos. Também era membro do conselho consultivo da Parceiros Voluntários e da Câmara de Indústria e Comércio de Caxias do Sul-RS, além de diretor-presidente do Instituto Elisabetha Randon e diretor-presidente da Rasip Alimentos.
Sua empresa está presente em 12 países e ainda está em processo de expansão, exportando para mais de 100 países. O balanço do primeiro semestre de 2018 apresentou receita líquida consolidada de R$ 1,94 bilhão, já a Fras-le, com balanço em separado registrou faturamento de US$ 84,3 milhões na primeira metade de 2018.
Raul era casado com Nilva Therezinha Randon, formando uma família com cinco filhos: David (atual diretor-presidente do grupo Randon), Roseli, Alexandre, Maurien e Daniel.
