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Insegurança inspirou nutricionista a inovar no mercado de aplicativos de carros particulares

 

A nutricionista e administradora Gabryella Corrêa, paulista de 36 anos, viveu e aprendeu desde cedo a ocupar os espaços tidos pela sociedade como masculinos. Aos 15 anos ajudava o pai em sua oficina mecânica, mas mesmo tão nova, já sentiu na pele como era conviver em um ambiente machista. “Só permaneci porque recebia apoio e proteção dele (seu pai)”. Quando o pai se aposentou e fechou a empresa foi orientada por ele a não continuar na área, no entanto, decidiu seguir em frente e montou junto com um sócio, uma empreiteira. Era a única mulher entre 78 funcionários homens, mas o negócio não durou e deixou uma dívida de 80 mil reais.

Durante alguns anos Gabryella trabalhou na Odebrecht. Durante as olimpíadas do Rio 2016, realizou a gestão administrativa da cozinha na Vila dos Atletas, com 12 mil refeições/dia e 280 funcionários. Aproveitou para cursar outra faculdade na área de gestão financeira e especializou-se em administração, migrando para a área administrativa da empresa, cuidando da gestão de pessoas, finanças, e controle de custos.

“Cresci achando que a mulher deve ocupar o mesmo espaço que os homens, e acho que todo mundo precisa pensar dessa maneira.

Ainda em 2016, ao chamar um carro via aplicativo para ir encontrar amigos em um bar da cidade, Gabryella percebeu que o motorista estava se desviando do destino final. Percebendo o que estava acontecendo, insegura e com medo, os dois passaram a discutir até Gabryella ser ameaçada pelo motorista, que prometeu aproveitar-se dela em outra oportunidade. “Como ele foi me buscar em casa e tinha meu endereço, não denunciei. Fiquei com medo dele fazer algo contra mim”.

A experiência traumática fez com que a nutricionista começasse a buscar apenas motoristas mulheres nos aplicativos, mas percebeu a dificuldade de encontrá-las, já que não existiam muitas. Foi a partir da percepção dessa demanda que Gabryella passou a idealizar a criação de um aplicativo de carros particulares só com motoristas mulheres para passageiras mulheres.

A crise no setor de construção no país fez com que Gabryella se visse desempregada, mas foi a oportunidade perfeita para que ela levasse adiante a ideia de fundar uma nova empresa. As primeiras pessoas a ouvirem sua ideia foram as amigas e  sua família. Muitos tiveram dúvidas, principalmente seu pai e a maioria dos homens da família.

 

“Quando eu comecei a desenvolver a ideia da Lady, muita gente, principalmente os homens, disse que ninguém ia querer esse serviço. Também ouvi que eu não tinha chance de concorrer com os grandes”

 

As mulheres se identificaram mais com a ideia, recebendo apoio da mãe e da irmã, Rachel Lopes (que entrou como sócia no negócio junto com a cunhada, Bianca Saab Corrêa). Só depois de ter todo o plano de negócios estruturado é que Gabryella contou para o marido, que aprovou o plano e lhe deu apoio. O investimento inicial de R$ 500 mil veio do bolso das próprias fundadoras. A empreendedora também buscou capacitação em cursos sobre startup e tecnologia para situar-se no mercado e depois de muita pesquisa criou um MVP, que consiste em lançar um novo produto ou serviço com o menor investimento possível, para testar o negócio antes de aportar grandes investimentos.

Na época, morando no Equador depois que o marido havia sido transferido, Gabryella pôde constatar o grande interesse gerado – no momento do lançamento, já eram mais de 14 mil mulheres cadastradas – fazendo com que a CEO tivesse que voltar para o Brasil. Com muitas passageiras e poucas motoristas,  passaram a dedicar o foco da comunicação nas colaboradoras, apostando no empreendedorismo para ajudar outras mulheres e a trabalharem em setores em que elas ainda não são vistas naturalmente. Foram 2 mil motoristas cadastradas logo no início, onde 20% delas nunca dirigiram em outro aplicativo.

Assim nasceu o aplicativo Lady Driver, o primeiro de transporte só para mulheres e a primeira empresa de motoristas mulheres a ser legalizada no Brasil e no estado de São Paulo. A licença foi emitida justamente no dia 8 de março de 2017, junto às comemorações do Dia Internacional das Mulheres. Após quase 1 ano,  o marido de Gabryella, engenheiro, também entrou no negócio, ajudando na parte do desenvolvimento do aplicativo. Com um crescimento rápido, hoje a plataforma tem mais de  19 mil motoristas cadastradas. Nesse primeiro ano receberam também um aporte de R$ 500 mil de investidores anjos, usados para atualizar o layout e corrigir questões técnicas.

A diversidade também é um diferencial da empresa de Gabryella, onde mulheres transexuais também são bem-vindas: “Somos uma empresa a favor da inclusão e livre de preconceitos”. Em seis meses de funcionamento receberam um aporte de 1 milhão de reais liderado pela Kick Ventures, além de terem sido selecionadas por uma empresa canadense para participar de um programa de aceleração de startups.

Em janeiro de 2018, o jornal inglês Financial Times apontou a Lady Driver como maior aplicativo de transporte exclusivo para mulheres no mundo. No mesmo ano, em parceria com a locadora de veículos Movida, mais de 50 carros da empresa passaram a ser destinados exclusivamente para as motoristas cadastradas no aplicativo. As que atingirem 270 corridas por mês têm o custeio total do aluguel do carro bancado pela Lady Driver.

Além da cidade de São Paulo, onde o aplicativo já funciona, o serviço está sendo expandido para o Rio de Janeiro, Porto Alegre, Brasília, Recife e Salvador. Em 2019, o plano é levá-lo para fora do país, primeiro para a Cidade do México e depois expandir para Estados Unidos e Europa. Segundo Gabryella, o faturamento mensal já ultrapassou R$ 1 milhão.

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