Nascido em 8 de janeiro de 1931, na cidade de Bauru, São Paulo, Ozires Silva começou a se encantar com o mundo da aviação a partir dos primeiros contatos que teve com o aeroclube de sua cidade, Bauru, fundado em 8 de abril de 1939. Na década de 40, Ozires e seu amigo Benedito César (Zico), passaram a frequentar o espaço juntos, começando pelas aulas de aeromodelismo e depois pilotando planadores.
Aos 15 anos, Ozires veio a conhecer um Alemão, fabricante de aviões, que fugindo da segunda guerra foi parar no aeroclube da cidade, desenvolvendo planadores. “Ele mostrou que projetar, criar e construir aviões podia ser tão interessante quanto voar” e que uma máquina antes vista apenas como “algo para ser pilotado”, passou a ser para Ozires e seu amigo como algo que foi “construído por alguém”.
Ainda garoto, uma questão fundamental permeava seus pensamentos: “porque nós, tendo Santos Dumont, não fabricamos aviões?” Estava decidido que trabalharia em uma fábrica de aviões, sem saber até então que não existia fábrica de aviões no Brasil. Na busca por mais informações, além de descobrir que, para construir aviões era necessário uma formação em engenharia aeronáutica, acabaram também descobrindo que não existia no Brasil formação em engenharia aeronáutica. Os cursos que existiam só existiam fora do país, mas a vida dos dois era extremamente humilde e estudar fora estava definitivamente fora dos planos.
“Não fiquem como cidadãos de segunda classe achando que o hemisfério norte vai resolver os problemas que nós precisamos .“
Adolescentes, no tiro de guerra, foram incentivados pelo sargento a tentarem o concurso nacional da FAB (Força Aérea Brasileira). Conseguiram na segunda tentativa, ingressando em 1948 e em 1951 Ozires graduou-se junto ao amigo como oficial aviador e piloto militar. Em 1955, Ozires perdeu o amigo, envolvido em um acidente aéreo com avião caça.
A morte do amigo acabou adormecendo os sonhos de Ozires, que não tinha conhecimento da criação do ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica), a primeira escola de engenharia aeronáutica do Brasil, em 1950. Quando tomou ciência da oportunidade e que, principalmente, já preenchia os requisitos necessários para tentar uma bolsa integral oferecida pela FAB, prestou o concurso e em 1962, aos 32 anos, graduou-se em engenharia aeronáutica. No mesmo ano foi convidado pelo diretor geral do CTA (Centro Técnico Aeroespacial, localizado em São José dos Campos) a continuar seu trabalho por lá dentro do departamento de pesquisas, no setor de aeronaves.
A missão pessoal de Ozires era convencer colegas a embarcarem no projeto de fabricação de aviões. Em tentativas passadas, ninguém havia pensado além da engenharia, por isso o marketing e vendas, na sua visão, era o que faltava: a perspectiva mercadológica. Seu divisor de águas foi descobrir que, até 1957 o Brasil tinha cerca de 400 cidades atendidas pelo transporte aéreo e em 1965, apenas 45 cidades eram atendidas. Isso porque os jatos dependiam de infraestrutura e condições que as pequenas e médias cidades não satisfaziam. Ao descobrir que nenhuma fábrica do mundo fabricava avião pequeno que pudesse atender a demanda daquela realidade, Ozires e sua equipe passou a idealizar a criação de um avião pequeno, que pudesse pousar em pistas não pavimentadas, adaptadas a pequenas cidades, visando não apenas o mercado nacional mas a demanda mundial.
“Nós brasileiros em geral, quando a gente começa qualquer coisa parece uma turma do “deixa disso”. E a turma do “deixa disso” fala: poxa, mas se ninguém tá fabricando esse avião porque que vocês vão fabricar?”
Muitos desencorajaram que ele seguisse adiante. Diziam que os custos operacionais de aviões pequenos eram enormes se comparados com os grandes. Ouvia até mesmo de estrangeiros que visitavam o ministro que o projeto era uma grande besteira. Mas mesmo debaixo de muito descrédito, dúvidas e desconfiança, o Bandeirante (nome do primeiro avião protótipo construído pela equipe) alçou seu primeiro voo em 22 de outubro de 1968.
Mesmo sem nenhum apoio ou investimento após os primeiros voos, recusaram-se a aceitar capital estrangeiro. Quando tentaram o caminho da sociedade de economia mista, com participação privada e estatal, ouviram novamente um “Não” do ministro. As esperanças novamente se acenderam quando as 7 da manhã de um domingo, em abril de 1969, o operador da torre contatou Ozires para informar que o voo do então presidente da república, Costa e Silva, com destino a Guaratinguetá, se desviara para São José dos Campos e que precisavam de uma autoridade para recebê-lo, já que todos estavam em Guaratinguetá. Ozires, major da FAB na época, foi escolhido para fazer as honras. Era a chance perfeita que Ozires teve para vender sua ideia ao presidente e fazê-lo aceitar a criação uma sociedade de economia mista para que pudessem lançar o projeto do bandeirante. E ele conseguiu.
Em junho de 1969, em reunião com o presidente e mais 4 ministros a EMBRAER surgiu e Ozires foi designado primeiro presidente da EMBRAER. O objetivo era construir um hangar capaz de produzir dois aviões do tipo Bandeirante por mês. A União possuía 51% das ações e o restante pertencia a pessoas físicas e jurídicas.
Em 1986, indicado pelo presidente José Sarney, Ozires ausentou-se da Embraer para assumir a presidência da Petrobras entre 1986 e 1988, depois atuou como ministro da Infra-Estrutura de 1990 a 1991, quando voltou à presidência da Embraer, conduziu o processo de privatização da companhia, leiloada em dezembro de 1994. A arrecadação da União foi de R$ 154 milhões. Ozires entregou o cargo após a venda com a justificativa de que a empresa precisava agora de sangue novo.
Muito além da EMBRAER, após sua saída Ozires também foi presidente da Varig de 2000 a 2002, ex-diretor de tecnologia da AVAMAX em 2004, presidente da Pelé Nova – empresa de biotecnologia, presidente do Conselho Consultivo do World Trade Center e atualmente, aos 87 anos, é reitor da Unimonte, universidade privada brasileira.
Seu trabalho pela fundação da EMBRAER, resulta hoje na terceira maior fabricante de jatos comerciais do mundo, líder global no segmento de até 130 assentos. Já produziu 5 mil aviões que operam em mais de 80 países nos cinco continentes, tem unidades industriais, escritórios e centros de distribuição de peças e serviços nas Américas, África, Ásia e Europa. Seu faturamento anual está na faixa de US$ 6 bilhões anuais (em 2017). No dia 5 de julho de 2018, a Embraer junto a gigante americana Boeing divulgaram a assinatura de um acordo de intenções para formar uma joint venture na área de aviação comercial da companhia brasileira, avaliada em US$ 4,75 bilhões. Assim, a fabricante norte-americana de aeronaves deterá 80% do novo negócio e a Embraer, os 20% restantes.