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Made In China: A mulher que importou o futuro da iluminação brasileira.

Histórias de empreendedores são fascinantes. Além das tantas características comuns, como persistência, capacidade de se reinventar e vencer desafios, alguns parecem carregar uma espécie de dom. Um bom exemplo disso é a história de Alcione Albanesi (57), criadora da marca FLC – eleita em 2017 como líder de vendas em lâmpadas LED do país, de acordo com o Instituto de Pesquisas Nielsen. Sua participação no mercado de lâmpadas no Brasil gira em torno de 30%.  Alcione, desde muito jovem já trilha seu caminho como empreendedora de forma bastante auto suficiente e corajosa.

Na sua infância ela costumava rifar os presentes que ganhava de aniversário. Com 14 anos surpreendeu seus pais com o anúncio de que estava de malas prontas para um intercâmbio nos Estados Unidos, só precisava da assinatura deles. Apesar da confusão que criou, os pais vencidos pela persistência da filha caçula, autorizaram sua ida.

Quando Alcione retornou ao Brasil após um ano, a mãe rapidamente lhe matriculou em um curso de postura da Christine Yufon, de onde saiu já trabalhando como modelo e vivendo durante algum tempo como manequim de passarela. O sonho de ser dona do próprio negócio, porém, falava mais alto. Entre um desfile e outro, procurava aprender tudo o que podia sobre os bastidores da confecção, e com 17 anos ela já comandava sua própria confecção, a Mystyle, com mais ou menos 80 funcionários diretos. Vendia para grandes redes, como Lojas Americanas, C&A, Pernambucanas, Lojas Marisa, produzindo quase 100 mil peças por mês. Posteriormente ela venderia a confecção no auge, poucos meses antes de ser instaurado o primeiro plano cruzado.

Já nos anos 90, inspirada pelos negócios prósperos que observava na rua Santa Efigênia, em São Paulo, aos 31 anos usou o dinheiro da venda da confecção e foi a primeira mulher a abrir uma loja de produtos elétricos na mesma rua. Era uma lojinha simples de 60m², diferenciada pelo sistema de autosserviço. O investimento caro em um mercado completamente diferente, a localidade do negócio e a quantidade de produtos em estoque fizeram com que Alcione começasse no ramo de forma pequena.

“As pessoas podem e devem começar de uma forma simples. Muitos negócios não prosperam porque as pessoas já idealizam ser grande. Eu também sempre quis ser grande, mas eu comecei muito pequena.”

A guinada do negócio viria com uma grata surpresa durante uma viagem aos Estados Unidos, quando se depara com uma lâmpada fluorescente sendo vendida três vezes mais barata do que as encontradas no Brasil. Alcione descobriu que as lâmpadas estavam sendo importadas da China, e em 1992, sem saber falar mandarim e  sozinha, desembarcou no país asiático.

 

“Você tem que ter um produto de qualidade. Porque nenhum produto sem qualidade vende, ele pode hoje estar indo bem, mas ele não vai vencer para o amanhã.”

 

A empreendedora tinha muita certeza do que queria, mas ao mesmo tempo todos lhe diziam que não daria certo. Já haviam se passado 4 dias em solo chinês e não havia conseguido contatar nenhuma empresa fornecedora de lâmpadas, até encontrar as “páginas amarelas”. Com a ajuda de uma tradutora, enviava fax para várias empresas de lâmpadas fluorescentes e se encontrava com os fornecedores na recepção do hotel, que vinham trazendo amostras.

A primeira tentativa de Alcione poderia ter sido a sua derrota. Após concretizar uma compra de 3 contêineres, cada um contendo 33 mil lâmpadas, descobriu que não funcionavam nos reatores brasileiros. Teve que escutar muitos “eu te disse”. Mas com uma persistência inabalável retornou à China no mês seguinte para comprar novas lâmpadas compatíveis, e sua empresa se tornou a primeira a trazer lâmpadas econômicas ao país, aquelas que viriam a substituir as incandescentes. A recompensa por não desistir foi a de se tornar líder no mercado brasileiro, competindo com grandes multinacionais e conquistando a certificação voluntária no Inmetro de qualidade.

Em junho de 2001, momentos antes do início do apagão, a FLC foi a única empresa no Brasil com estoque suficiente para atender à demanda por lâmpadas no país e o grande feito não teria ocorrido se não fosse por um grande senso intuitivo para o negócio que a empresária teve. Mesmo escutando que sua decisão era uma insanidade, retornou da China  com uma carga de três milhões de lâmpadas, quando as vendas mensais do setor não passavam de 300 mil unidades. Em 2014, a FLC conseguiu inaugurar a primeira Fábrica de LED no Brasil, no bairro do Limão, na zona norte da cidade de São Paulo. No mesmo ano, o fundo de investimentos Victoria Capital Partners comprou parcialmente a empresa, no qual Alcione hoje preside o conselho de administração e detém 20% da marca.

Em 2016, por estratégia financeira da empresa, a fabricação das lâmpadas saiu do Brasil. Atualmente a FLC mantém parte do escritório na China onde fazem toda a produção, porém, focados no mercado brasileiro, maior da América Latina. 70% do faturamento anual da FLC vem das lâmpadas LED eletrônicas.

Além da construção do império FLC, com faturamento de cerca de R$ 340 milhões ao ano, a empreendedora se dedica ao projeto social idealizado por ela, chamado Amigos do Bem, que leva recursos essenciais a milhares de vidas pelo interior do país. São roupas, alimentos, atendimento médico e odontológico para estados como Alagoas, Pernambuco e Ceará, contando com um time de aproximadamente 5 mil voluntários. Atualmente é considerado um dos maiores projetos sociais do país.

 

Fonte
Isto É DinheiroEndeavorMulher EmpreendedoraDiário do ComércioShe Means BusinessO Estado de S. Paulo
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