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Ele dá aula de marketing com seu carrinho de pipoca

 

“Pense em pipoca, pense em Valdir”, esse é o slogan que acompanha o trabalho do empreendedor Valdir Novaki, 46, como pipoqueiro. Um grande exemplo de que, realmente não importa o tamanho do negócio, mas a capacidade de inovar e fazer diferente é que trazem os resultados desejados. Sem ter terminado o fundamental, Valdir difunde o empreendedorismo dando palestras pelo Brasil falando sobre marketing, relacionamento com cliente, valor agregado a marca e muita experiência em simpatia.

Sua vida começou em São Mateus do Sul, Paraná, dentro de uma família numerosa com mais 12 irmãos. Foi boia-fria desde cedo para ajudar no sustento da casa e dos irmãos e por isso só pôde estudar até a quarta série do fundamental. Em 1989, já casado e com um filho, precisou buscar melhores condições de vida, decidindo então mudar-se para a capital Curitiba. Conseguiu um primeiro emprego como lavador de carros em um estacionamento, mas a falta de estudos dificultava encontrar trabalhos melhores. Em 1992 o dono do estacionamento vendeu o local e Valdir se viu desempregado. Foi nas páginas do jornal que encontrou uma vaga para ser balconista de uma banca de revistas na Praça Rui Barbosa, trabalhando ali por 10 anos e onde veio a ter contato com diversos trabalhadores ambulantes que por lá vendiam. Ainda em 1992, ele entrou com o pedido na prefeitura de Curitiba para ter direito a um ponto de venda, espera essa que durou longos 14 anos.

“Quando me perguntam o que gosto mais, se dar palestras sobre o meu caso de empreendedorismo ou fazer pipoca, sempre digo que gosto mais de fazer pipoca e de manter contato com os meus clientes.

A pipoca na vida do Valdir foi obra do acaso, já que o dinheiro que havia poupado ao longo do tempo só daria para investir na venda de pipoca. Então ele alugou um carrinho e fez seu ponto na frente da Biblioteca Pública do Paraná. A licença definitiva chegou em 2006, quando seu ponto fixo passou a ser na Praça Tiradentes, e com pouco mais de 4 mil reais que economizou ao longo dos anos, ele finalmente conseguiu comprar seu primeiro carrinho de pipoca.

No entanto, para Valdir não ser apenas mais um dentre seus 68 concorrentes nas proximidades, ele entendeu que precisava ser o melhor pipoqueiro, oferecendo um diferencial. Investiu no atendimento ao cliente e em uma forma diferenciada de fazer seu trabalho, o que o fez ganhar destaque na mídia em na sua própria cidade. O empreendedor buscou capacitação no Programa de Alimento Seguro (PAS) para ter noções de manuseio e higiene de alimentos, além de  garantir o reinvestimento de pelo menos 30% do seu faturamento em inovações e na qualidade do serviço.

Sua jornada começa às 7h da manhã em casa e se estende até as 19h30 na rua, já o cuidado vai desde o uniforme que Valdir usa, limpo e trocado todos os dias – o que é percebido pela gravação do dia da semana no bolso do jaleco – , até  para o carrinho, seus utensílios e insumos. Ele tem a preocupação em utilizar aço inox, sempre esterilizados antes do primeiro manuseio do dia e a cada 20 minutos. Também faz questão de mostrar a constante higiene das mãos com álcool 70. Seu milho é importado da Argentina, o bacon usado é de marca conhecida e o óleo é leve. Tudo manipulado e embalado em sua residência, em porções exatas para manter um padrão de produção e mantendo o mesmo sabor. Para trazer mais exclusividade ao serviço, Valdir criou um cartão fidelidade em que, a cada cinco pacotes de pipoca, o sexto sai de graça.

 

“Se for empreendedor por pura necessidade deverá se esforçar ainda mais, pois os tropeções serão comuns, e não podemos amolecer diante dos inevitáveis transtornos que nos visitam.”

 

Outra manobra de marketing criada foi o cartãozinho “pré-pago”, chamado “dúzia de dez”, onde o cliente pode pagar por 10 pipocas e consumir 12 em determinado período de tempo.

São em média 20 quilos de milho estourados por dia e suas inovações fizeram suas vendas multiplicarem em 30 vezes. O álcool gel fica  à disposição do cliente, que ainda ganha um “Kit Higiene” na hora da compra, contendo um guardanapo, fio dental e uma bala de menta, além de um pequeno informativo que divulga a qualidade da pipoca do Valdir.

Todo esse carinho com o negócio e seus clientes garante a Valdir um faturamento em torno de R$ 60 mil por ano com ajuda da esposa e do filho. Em 2011 ele tirou seu CNPJ, garantindo a compra dos insumos direto de fabricantes. A demanda pelo serviço aumentou quando conseguiu adquirir máquina de cartão de débito/ crédito, facilitando contratos com empresas ou pessoas para eventos.

Sempre que pensa em algo novo, o empreendedor faz um teste piloto com um grupo experimental que aprova ou não suas novas empreitadas, e a partir do resultado da pesquisa é que ele decide o que vai para a rua. Claro que, em meio a tantos acertos, houve alguns tropeços. Como a vez em que teve aval positivo do seu grupo de pesquisa para oferecer pipocas light/diet. Porém, o retorno não foi como esperado, e ele abandonou a ideia. Ou quando ele resolveu trocar um insumo de alta qualidade por um inferior porque ele custava R$ 1 real a menos. No primeiro teste que fez com o produto, antes de sair com o carrinho na rua, ficou tão decepcionado com a qualidade que teve vergonha de oferecer para seus clientes. Naquele dia resolveu não ir trabalhar, fazendo a doação daqueles R$ 300 em mercadoria.

Por causa do seu trabalho diferenciado, Valdir começou a receber propostas para contar sua história em palestras motivacionais pelo país, abordando temas como inovação, criatividade, atendimento, qualidade de serviços, motivação pessoal e empreendedorismo. Já são mais de mil palestras no currículo, ao custo de R$ 10,8 mil cada. Através de um site próprio ele conta sua história e mantém seus contatos para trabalhos.

Hoje ele tem um carrinho de pipoca elétrico e adesivado com sua logomarca, onde  instalou uma placa de energia solar ao custo de R$ 30 mil, permitindo que as dez luzes de LED funcionem durante o período noturno. Seu objetivo é passar a oferecer wi-fi de graça, TV de LED sintonizada nas notícias e sacos de pipoca personalizados.

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