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Pedras brasileiras conquistam o mundo pelas mãos de um judeu visionário

 

Como a história de muitos imigrantes judeus, Hans Stern chegou ao Brasil com sua família em busca de refúgio às vésperas da Segunda Guerra Mundial, em 1938. Após o episódio que ficou conhecido como Noite dos Cristais, quando casas e lojas de famílias judaicas na Alemanha foram atacadas e vários judeus mortos e feridos, a família não teve outra escolha senão partir.

Com 16 anos, Hans e a família desembarcaram na Baía de Guanabara, RJ com apenas 10 marcos no bolso, as roupas do corpo e livros. O primeiro capital veio  da venda de enciclopédias que haviam trazido consigo na viagem. Enquanto Hans morava com a mãe seu pai foi dirigir uma usina hidrelétrica no Piauí. Com 17 anos começou a trabalhar em uma casa filatélica, mas depois migrou para a função de datilógrafo na empresa carioca Cristab, exportadora de cristais e pedras coloridas, e foi onde começou a aprender a admirar as pedras brasileiras. Quando passou a exercer a função de compra e venda, fazendo viagens pelo interior do país, principalmente em Minas Gerais, passou a ficar cada vez mais fascinado pela beleza e as cores das pedras nacionais.

Em 1945, com 22 anos, e confiante na experiência que havia adquirido, vendeu um acordeão Hohner que trouxe da Alemanha, por US$ 200 e abriu o próprio escritório fazendo o que já sabia fazer: compra e venda de pedras preciosas.

O empreendedor começou em um pequeno sobrado na Rua Gonçalves Dias, em frente à tradicional Confeitaria Colombo no RJ. Se aventurava  pelos garimpos do sertão brasileiro em busca das conhecidas “semi-jóias” ametistas, topázios, turmalinas e águas-marinhas nacionais, apesar do mercado valorizar apenas safiras, rubis, diamantes e esmeraldas. Hans tinha por missão mudar a visão que se tinha das pedras brasileiras, promovendo suas belezas. Em pouco tempo as jóias também passaram a fazer parte do negócio, com instalação da primeira oficina de ourivesaria, optando por chamar artesãos europeus para trabalhar na sua empresa.

Exigente quanto ao padrão de qualidade, em 1947, Hans instituiu o Certificado de Garantia Internacional da HStern, para que seus clientes tivessem a garantia dessa qualidade e em 1949, foi aberta a primeira loja HStern no saguão de chegada de passageiros no Porto do Rio de Janeiro, no Touring Club, Praça Mauá, visando a grande movimentação de turistas estrangeiros por ali. Em seguida, abriu uma loja no hotel Quitandinha, em Petrópolis e outras lojas nos aeroportos cariocas e em hotéis.

As primeiras lojas no exterior foram abertas na década de 50 nas cidades de Buenos Aires (Argentina) e Montevidéu (Uruguai). Essa investida internacional no qual Hans apostou foi visto como algo corajoso e inovador, assim como várias outras ações criadas posteriormente, como o tour guiado pelas oficinas de ourivesaria em 1951 – que funciona até hoje- e a inauguração, em 1958, do maior Laboratório Gemológico próprio, da América Latina, instalado na sede da HStern no Rio.  No ano seguinte promoveu o primeiro desfile de jóias do Brasil. Em 1963, Nova Iorque foi a primeira cidade fora da américa latina a receber uma loja da HStern, sendo seguida posteriormente por Saint Thomas, na Alemanha e Lisboa, em Portugal. Abrir lojas pelo mundo em locais de grande circulação, principalmente de estrangeiros, fazia parte das estratégias de marketing que Hans acreditava ser eficientes.

Visionário não apenas na condução do seu negócio, sem direcionar recursos para publicidade, sua estratégia também contava com campanhas de relações públicas que aproximaram a HStern de grandes estrelas de Hollywood, como Catherine Zeta Jones, Brooke Shields, Sharon Stone, Angelina Jolie, até mesmo criando coleções, como a coleção Catherine Deneuve, a musa do filme “A Bela da Tarde”, nos anos 80, década em que se inaugurou a sede mundial da HStern em Ipanema, Rio de Janeiro –  primeiro prédio no mundo abrigando todos os setores do processo de fabricação de uma jóia.

Com a coroa de “rei das pedras coloridas” concedida pela revista norte americana Time em 1964, sua marca HStern ganhou o mundo, conquistando espaço em diversas outras publicações de peso, como Financial Times, The Wall Street Journal, New York Times, Reader’s Digest, Elle, Marie Claire, Vogue e Harper’s Bazaar.

Roberto Stern, filho mais velho de Hans, já trabalhava junto do pai desde a década de 80, passando por diversos setores até assumir a área de Criação, em 1990. Roberto foi responsável por uma nova era na HStern, onde as joias, antes reconhecidas essencialmente pelas pedras preciosas, agora se diferenciariam por meio do design.

Além da rede de joalherias pelo mundo, a marca também é dona de um restaurante (o Eça) e o Spa HStern. Apesar de certa resistência de Hans em colocar sua empresa nas mãos de familiares, Roberto e os outros dois filhos, Ricardo e Ronaldo, fizeram parte da empresa e conseguiram trazer grande valor à HStern.

Ao todo são quatro filhos: Roberto, Ronaldo, Ricardo e Rafael, frutos do casamento com a esposa Ruth, além de seis netos. Seu fundador faleceu em 2007 aos 85 anos de causas naturais e atualmente a família protagoniza uma batalha judicial com dois filhos não reconhecidos por Hans. Os irmãos ilegítimos pedem o direito à herança que foi dividida em testamento por Hans dois anos antes da sua morte. A família comanda as operações do dia a dia da empresa como membros do conselho de família e da diretoria.

A HStern, presente em mais de 30 países, está entre as cinco maiores joalherias do mundo, tem mais de 170 lojas próprias e aproximadamente 110 pontos de venda adicionais operados por parceiros comerciais. Fabrica mais de 210 mil peças por mês e tem faturamento estimado de US$ 450 milhões por ano.

Fonte
Folha de S. PauloRevista GQÉpoca NegóciosBlog Mundo das MarcasDrink de EstiloJoias In VogueEconomia EstadãoIstoÉBlog da Editora RecordO ExploradorInstitucional HSTERNH Stern, a história do homem e da empresa -Cap 1ALBINO, José Coelho de Andrade; GUIMARÃES, Felipe Jurdi. Internacionalização de marcas de luxo brasileiras: um estudo de caso da joalheria H. Stern. Internext – Revista Eletrônica de Negócios Internacionais, São Paulo, v. 4, n. 1, p. 100-129, jan./jul. 2009. Mundo S.ADocumentário Canto dos Exilados
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