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O desenhista que ajudou a alfabetizar milhões de brasileiros

 

Aos 82 anos de idade e ainda na ativa, Maurício de Sousa é uma lenda viva dos quadrinhos brasileiros. O empresário que na infância sonhava em ser aviador, foi conhecer pela primeira vez o que era uma revista em quadrinhos quando achou uma edição da revista O Guri em uma lata de lixo. Sem nem saber ler, por volta de seus 5 anos de idade, se apaixonou pelas histórias que eram lidas pela mãe, e que mais tarde, se uniria ao seu talento para o desenho.

O autor é nascido em Santa Isabel e ainda criança se mudou para em Mogi das Cruzes, interior paulista. Desde cedo sua base familiar era muito artística, onde seu pai Antônio Mauricio de Sousa era, além de jornalista e barbeiro nas horas vagas, poeta, compositor e pintor. Já a mãe, Petronilha Araújo de Sousa também se dedicava à poesia. Era comum Maurício estar sempre com um lápis na mão e rabiscando papéis pela casa, inclusive os cadernos de poemas do pai.

Tudo começa para um desenhista com a vontade de desenhar e, para um artista, com a vontade de criar.

Não somente os pais, mas a família inteira não economizava em elogios aos desenhos do empreendedor. Durante sua vida escolar, Maurício mostrava suas criações aos colegas de classe, que também gostavam do que ele fazia. O primeiro personagem criado ainda na escola foi o Capitão Picolé, um super-herói que era bem próximo do dinossauro Horácio. Ainda em Mogi das Cruzes, o empreendedor ilustrava pôsteres e cartazes para rádios, jornais e comerciantes da região.

Cercado de incentivos, o sonho de ser desenhista fez Maurício, aos 19 anos, levar suas ilustrações para a redação do Jornal Folha da Manhã, em São Paulo, onde foi de pronto rejeitado. Ouviu que ele procurasse outra coisa para fazer da vida porque aquilo não dava futuro nem dinheiro para ninguém.

Apesar do baque, conseguiu uma vaga no mesmo jornal como revisor de textos e depois como repórter policial. Tímido e sensível a sangue, Maurício levou o trabalho durante 5 anos, o que lhe possibilitou abertura para mostrar seu talento dentro da redação, desenhando retratos falados e quadrinhos que descreviam as cenas dos crimes. Seus textos longos e detalhistas demais, foram sendo trabalhados para que ficassem sucintos e objetivos o máximo possível. O trabalho na época foi essencial para que ele pudesse exercer mais tarde a profissão de roteirista, conseguindo fazer caber os textos nos balões dos quadrinhos.

 

“Eu faço histórias para contar histórias. Na minha infância ouvi muitas e até hoje meus avós me contam algumas, ou melhor, me ensinam a ser um contador de histórias.”

 

Seu primeiro personagem foi o cãozinho Bidu, inspirado em seu cãozinho de infância, Cuíca. Os primeiros quadrinhos vieram em 1959, quando sua historinha foi aprovada pelo jornal para ser publicada. No mesmo momento, Maurício pediu demissão do cargo de repórter para se dedicar somente ao desenho. As inspirações para os personagens vinham principalmente de vivências pessoais da infância e de pessoas reais. Logo apareceram nas histórias Cebolinha, Cascão, Chico Bento, Franjinha, Astronauta, etc. Todos meninos. A inspiração para suas primeiras personagens femininas foram suas filhas Mônica, com seu coelho de pelúcia, Magali comendo melancia e Maria Cebolinha (inspirada na filha Mariângela), que brincava no chão.

No início o autor trabalhava de forma independente dentro da própria redação da Folha, atendendo a vários jornais. Com o crescimento da demanda foi preciso aumentar a equipe, criando um time para bancar a produção mensal de histórias completas para as revistas e tiras de jornal. A grande equipe de desenhistas e roteiristas é hoje conhecido como os Estúdios Mauricio de Sousa.

Antes de chegar ao patamar de um dos maiores estúdios do mundo, que detém 80% do mercado brasileiro de quadrinhos, Maurício já foi obrigado a queimar gibis em praça pública ainda jovem nos anos 50. Perdeu trabalhos durante a ditadura, quando esteve à frente da Associação de Desenhistas de São Paulo, e acusado de comunismo ao lutar pela presença do quadrinho nacional no varejo brasileiro.

Em 1987, Maurício é convidado a ilustrar o recém lançado Folhinha de S. Paulo, e também O Estadinho, do jornal O Estado de S. Paulo. A personagem Mônica caiu nas graças do público, aparecendo em comerciais de televisão já na década de 60, e a primeira edição “Mônica e Sua Turma”, com tiragem de 200 mil exemplares, pela Editora Abril, criou uma forte concorrência com os gibis Disney nas bancas. Em 1986 Maurício migrou para a Editora Globo, e 20 anos depois para a Editora Panini.

A revista da Mônica é colocada pelo seu criador e por milhões de leitores como a mais importante cartilha de alfabetização extraoficial do país. Atualmente são cerca de 300 desenhistas trabalhando diretamente para os estúdios. Com fama internacional, está presente hoje em 50 países e já são cerca de 1 bilhão de revistas publicadas. Além dos quadrinhos, são quase 3 mil itens licenciados com os personagens de Mauricio de Sousa, incluindo jogos, brinquedos, roupas, decoração, material escolar, alimentação, DVDs, revistas, livros, além de adaptações para o cinema, TV e um parque de diversões localizado no Shopping SP Market, em São Paulo.

Idealizador de um trabalho que acompanha gerações, em 2017 o autor lançou uma autobiografia intitulada “Maurício de Sousa, uma história que não está no gibi.”

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