Alexandre Costa (48) e sua trajetória com os chocolates Cacau Show nos fazem lembrar do icônico personagem Willy Wonka e sua Fantástica Fábrica de Chocolates. Substituindo a excentricidade da ficção pela simplicidade, em 29 anos de trabalho, Alexandre transformou um erro na maior rede de chocolates finos do mundo, com um faturamento de R$ 3,5 bilhões ao ano.
Nascido na zona norte de São Paulo, no bairro da Casa Verde, é filho de tecelão e mãe revendedora porta a porta. Criança, costumava acompanhar a mãe nas vendas de cosméticos, lingeries e utensílios domésticos. Após um tempo, ela começou a montar os próprios catálogos de revenda, que tinham como nome MAVIL’s, e teve a ideia de diversificar a atuação adicionando bombons aos catálogos. Em 1984, criou então a marca Cacau Show.
Com 14 anos, Alexandre e a mãe começaram a vender chocolates, até que na Páscoa de 1985, o fabricante não conseguiu entregar toda a encomenda. Sem ter como arcar com os pedidos, a mãe de Alexandre desistiu do negócio e ele começou a trabalhar em um posto de gasolina. Mas não por muito tempo, quando 3 anos depois, com 17 anos, decidiu retomar a ideia.
Ousado, retomou o modelo porta a porta e conseguiu algumas encomendas para a Páscoa, uma delas eram de 2 mil ovos de 50 gramas. O fabricante do qual Alexandre era cliente, porém, não tinha esse tamanho de ovo disponível, deixando Alexandre novamente em uma situação difícil. Poderia até mesmo ter desistido, se não fosse sua vontade de fazer dar certo: “Alcancei uma solução que me fez realizar jornadas de 17 a 18 horas diárias de trabalho árduo”, conta. O empreendedor, já com 18 anos e com um fusquinha branco, foi procurar de atacado em atacado quem pudesse ajudar com os 2 mil ovos. Encontrou a dona Cleusa que viria a lhe ajudar na produção da encomenda. Com 500 dólares emprestados de seu tio Valdir, trocou pelo dinheiro da época, comprou o chocolate e em dois dias e uma noite, fizeram os ovos.
“A paixão pelo chocolate sempre foi presente em minha vida, já ‘ser’ um empreendedor, acredito que é a junção de uma pessoa possuir um dom, um espírito empreendedor, e o aprendizado adquirido ao longo dos anos. Comigo não foi diferente. Por isso, deixei de fazer muitas coisas por acreditar em um sonho maior, hoje chamado Cacau Show.”
O resultado de tanto empenho foi ter conseguido pagar o fornecedor, a dona Cleusa, o empréstimo de seu tio, o atacado e no final ainda lhe sobrou um lucro de 500 dólares. Com esse rendimento se instalou em uma salinha de 12m² dentro da empresa dos pais, trazendo dona Cleusa para trabalhar com ele. O senhor Dionísio Campos, antigo chocolateiro, foi o primeiro mentor de Alexandre na profissão, chamando-o para estagiar alguns dias na antiga Sönksen, a primeira fábrica de chocolates finos do país, em São Paulo.
“O que deu errado para vocês no passado talvez não dê errado para mim agora, não é?”
O crescimento a partir dali foi gradual. Alexandre deu continuidade ao negócio vendendo suas trufas em padarias, lanchonetes e mercados de São Paulo. Nos anos 90, o direcionamento passou para grandes varejistas, incluindo na época a grande Mappin. Conseguiu abrigar a primeira fábrica em um espaço de 5 mil metros, ainda na região da Casa Verde, zona norte.
Para construir seu império o empreendedor percebeu um nicho inexplorado ainda no mercado: a qualidade do chocolate artesanal atrelado à um custo acessível.
A primeira venda por varejo veio por acaso no ano de 2001 em Piracicaba, quando um revendedor dos chocolates de Alexandre fez um pedido grande demais para ser comportado em seu apartamento de 70m². Tiveram que abrir um depósito com uma loja na frente, e 6 meses após viria o investimento da primeira loja oficial e padrão Cacau Show, o que acabou sendo um grande golpe de oportunidade e sorte.
Foi durante uma ida a Suzano com seu gerente, para realizar uma reunião com uma possível primeira franqueada, que por coincidência conheceu um senhor com seus 70 anos. O senhor expressou o desejo de investir em um negócio de chocolates, como a Cacau Show, sem saber que estava falando com o próprio dono da marca. Semanas mais tarde, a franqueada inicial desistiu do negócio e quem de pronto aceitou o posto oferecido por Alexandre foi aquele senhor. Foi então que surgiu a primeira loja Cacau Show inaugurada de forma padronizada, localizada no shopping de Suzano.
A expansão veio pelo modelo de franquias, contando com mais de 2.050 lojas que comercializam cerca de 14 mil toneladas do chocolate ao ano. Em 2017, com ares que lembram o filme “A Fantástica Fábrica de Chocolates”, Alexandre abriu um espaço de produção de 2 mil m² em Itapevi. Com investimento de cerca de R$ 130 milhões, o local expõe um mural do artista Kobra de 5.728 m², considerado o maior grafite do mundo.